quarta-feira, 31 de agosto de 2011

78- E, Então, Dois se Foram


         Ainda estávamos abalados pela morte de Manu. Havia se passado apenas 2 semanas e isso continuava afetando a todos. Principalmente a mim.
         Parecia ontem que nós estávamos implicando uma com a outra. Pelo menos, aquele idiota do Sean já não iria causar mais causar problemas.
         Eu estava deitada em minha cama. Pensando. Pattison bateu na porta, pedindo para entrar.
-Tá, pode entrar – eu disse
-Como você está? – ele disse, entrando no quarto
-Preciso responder?
-Olha, eu sei que você está péssima, mas você vai superar – disse Pattison
-Ela não é um hamster que morreu 2 semanas depois que eu comprei. Ela é, bom, era uma grande amiga com a qual eu passei mais de 10 anos! – argumentei
-Eu sei. Mas você não pode ficar nesse quarto para sempre! – ele disse
-Posso tentar. Se importa em me deixar sozinha? – eu disse, arrogantemente
         Pattison acabou desistindo e se preparou para sair do quarto. Assim que ele foi em direção à porta, uma bola de fogo atravessou a janela do meu quarto, deixando estilhaços por toda a parte.
-Feliz? Agora eu tenho um motivo para sair do quarto – eu disse, ironicamente

Algumas horas atrás...
PDV da Nath

         Eu e o resto do pessoal estávamos na sala, conversando. Ainda estávamos bem abalados, mas Allanis era a que estava pior. E nós entendíamos ela. Perder uma amizade de 12 anos não devia ser fácil. Fazer contato com ela estava complicado.
-Primeiro, o Luis; depois, Manu. Falta mais quem? – eu disse
-Cruzes! Vira essa boca pra lá! – exclamou Kel
-Ficou tudo tão estranho depois da morte dela... – disse Rafah
-Daí pra pior. Do jeito que Allanis está, as coisas aqui vão piorar – disse Karol
-Bom, tenho que trabalhar – disse Kah, se despedindo
         Kel foi junto com ela e nós continuamos a conversar sobre o estado de Allanis.
-Sabe, alguém deveria ir lá e conversar com ela – disse Lucas S
-Eu não. Não sei dar consolo – disse Ana
-Tá legal, eu vou – disse Pattison
         Depois que ele foi até o quarto de Allanis, Julie entrou na mansão.
-Vocês viram o Lucas? – ela perguntou – Ele saiu antes que eu acordasse e não deixou nada, nenhum bilhete, nenhum aviso
-Não. Ainda não o vimos – respondeu Thaís
-Estou preocupada – disse Julie – Ele não é de sumir assim
         De repente, ouvimos um barulho. Parecia o som de um elefante caindo do céu.
-O que foi isso? – disse Karol, assustada
         Fomos para fora, tentando achar a causa do barulho. Quando saímos, encontramos Lucas C, na sua forma de monstro de elementos. Ele estava sério. Sério de maneira assustadora. Logo, ele lançou uma rajada de vento contra a gente.
-Por que ele está atacando a gente? – disse Matheus
-Eu não sei – eu disse
         Jose e Bianca se juntaram e criaram um escudo para nos proteger da rajada de vento. Elas foram até Lucas C para tentar pará-lo, mas ele lançou um raio tão forte que quebrou o escudo e as jogou no chão. Kel lançou pedras contra ele, mas as pedras se quebraram facilmente. Lucas C começou a lançar várias bolas de fogo, e uma acertou o quarto de Allanis.

Fim do PDV da Nath

Agora...

-Você está legal? – perguntei a Pattison
-Estou. Só me cortei um pouco, mas nada grave – ele respondeu
         Olhei pelo buraco na parede deixado pela bola de fogo e vi Lucas C brigando com o pessoal lá embaixo, no quintal. Pulei da janela e acertei em cheio as costas de Lucas. Dei uns socos, mas ele parecia não ter sentido nada. Só sei que ele se irritou. Me pegou pela cabeça e me jogou na parede da mansão.
-Ele ficou maluco?! – exclamei
-Ou isso ou ele é drogado e a gente não sabe – disse Ana
         Lucas S arrancou uma das pedras da calçada e lançou contra Lucas C, que partiu a pedra como se fosse um pedaço de biscoito.
         Já que usar a força bruta não estava adiantando, resolvi conversar com ele.
-Lucas, me escuta! Sou eu, Allanis. Não precisa nos atacar. Somos seus amigos – eu disse, me aproximando
         Ele parou por um momento e olhou fixamente o rosto de cada um. Parecia estar tentando processar tudo aquilo.
-Pessoal... – ele disse, com uma voz deformada e assustadora, característica daquela forma
-Sim, somos nós – eu disse, chegando cada vez mais perto, tentando acalmá-lo
         Me aproximar dele foi um erro. Ele me deu um chute que me lançou para longe, fazendo com que eu caísse em cima de Bianca.
-Você daria uma ÓTIMA psiquiatra – ela disse, sarcasticamente
         Julie tentou uma tática mais agressiva e lançou chicotes d’água contra Lucas. Ele segurou os chicotes e passou uma carga elétrica por eles. A carga elétrica chegou até Julie e ela caiu desmaiada.
         Foi aí que algo estranho aconteceu: Lucas pareceu arrependido. Ele até tentou se aproximar para ver como Julie estava. Dava para ver a preocupação em seu rosto. Então, ele deu um grito de dor e colocou a mão na cabeça. Depois, assumiu a forma de vento e sumiu.
-Que esquisito... – disse Lucas S
-Mais que esquisito. Assustador – eu disse
         Fomos todos até Julie. Pattison a pegou no colo e nós levamos ela para o hospital. Nath ficou tomando conta de Jen.
-O que fez Lucas ficar daquele jeito? – disse Kel
-Eu não sei. Só sei que aquele não é o Lucas que eu conheço. Ele está fora de si – respondi
-Tem razão. Ele não atacaria Julie daquele jeito em sã consciência – disse Matheus
-Você tá legal com tudo isso? – disse Pattison – Você tá de luto e...
-Não estou de luto. Pelo menos, não enquanto eu não descobrir o que Lucas tem e curá-lo. Quero que todos dêem o seu máximo. Eu não aceito perder mais um – eu disse, seriamente

77- De Volta ao Luto


         A chuva ainda me encharcava. Eu continuei parada no mesmo lugar. Ficar molhada era o menor dos problemas naquele momento.
         Continuei parada, encarando sua lápide, como se isso pudesse mudar o que aconteceu. Como eu não percebi? Como eu não pude notar que ela estava obcecada? Talvez se eu tivesse percebido antes, isso não tivesse acontecido.
         No cemitério, havia um ipê com flores roxas. Me encostei nele e me sentei no chão encharcado. Fiquei sentada ali, embaixo da árvore, encarando o céu cinzento e chuvoso.
         Algumas lágrimas queriam escorrer pelo meu rosto, mas eu insisti em segurá-las, como se pudessem molhar meu rosto mais ainda.
         Continuei ali, olhando para a lápide com seu nome. Deixando que ela me assombrasse, me perturbasse, acabasse com a minha paz.
         Fiquei no mesmo lugar por alguns minutos, até que Nath apareceu para falar comigo. Sua barriga estava relativamente grande, deixando visível seus 5 meses de gravidez. Ela usava um guarda-chuva preto para se proteger da chuva. Ela se abaixou o pouco que podia para falar comigo.
-A chuva está apertando – ela disse – É melhor você vir conosco, para se aquecer
-Não quero – respondi, seriamente
-E o que você vai fazer? Ficar parada aí, encarando a lápide dela?
-Basicamente, sim
         Para se abaixar mais, ela teve que abrir as pernas, como uma galinha. Num dia normal, eu teria rido da cena. Mas aquele não era um dia normal.
-Você pode pegar uma doença! Olha só pra você: toda molhada! – ela exclamou
-Nath, é você quem está grávida. É você que está correndo risco de ficar doente. Vá para um lugar seco – disse calmamente
         Ela se segurou na árvore para ter apoio para levantar.
-Você tem certeza? – ela perguntou
         Respondi com a cabeça. Ela desistiu e me deixou sozinha.
         Fechei meus olhos e, por um momento, viajei no tempo. Estávamos na 5ª série, brincando e conversando durante o recreio. Na época, não tínhamos preocupações. Não sabíamos de nossos dons. E Manu ainda estava viva.
         Ao contrário do presente, aquele dia estava ensolarado e quente. Algumas folhas estavam espalhadas pelo chão, devido ao outono.
         Estávamos conversando sobre um garoto que acabara de se mudar para a minha rua. Como sempre, Manu se gabou, dizendo que poderia ficar com ele. Me surpreendi por sentir falta disso.
         Fui trazida de volta ao presente com um susto, causado por um trovão. Realmente, a chuva estava ficando forte. Mais trovões vieram juntos, dando a impressão de que estavam a cantar pela morte de Manu.
         As gotas de chuva ficaram maiores. Me levantei e comecei a vagar pelo cemitério. Percebi que agora eu era a única a permanecer ali.
         Fui andando lentamente em direção à saída do cemitério. Entrei em meu carro e liguei o rádio. Precisava esvaziar a mente, tirar tudo aquilo da minha cabeça. Coincidentemente, assim que liguei o rádio, começou a tocar “Back to Black”, da Amy Winehouse.

We only said goodbye with words (Nós apenas dissemos adeus com palavras)
I died a hundred times (Eu morri mil vezes)
You go back to her (Você volta pra ela)
And I go back to... (E eu volto para...)
Black, Black... (O luto, luto...)

-Qual foi, Amy? Tá de brincadeira comigo? – falei sozinha
         Aquela era a última música que eu queria ouvir naquela hora, então troquei de estação. Coloquei numa estação de notícias.
         Girei a chave do carro e dei partida. Fui dar uma volta pela cidade.
         Parei num semáforo no centro da cidade. Um menino fazia malabarismo, sem camisa, no meio da forte chuva. Eu até poderia achar aquilo um absurdo, se eu não estivesse encharcada.
         Depois de alguns minutos na estrada, cheguei na pousada onde o pessoal estava hospedado.
-Allanis, você está encharcada! – disse Pattison
-Fui sereia na vida passada – respondi com sarcasmo
-Você pode pegar uma gripe! – ele exclamou
         Não demorou muito para virem os espirros.
-Vou tomar um banho quente. E quero ficar sozinha, tá? – falei calmamente
         O banho quente foi bom para me acalmar.
         Assim que saí do banho, deitei na cama e liguei a TV. Logo depois, Lucas C entrou no quarto.
-Eu quero ficar sozinha – protestei
-Eu sei pelo que você tá passando. Eu perdi meu pai – ele começou
-Ah, tá. Que bom – falei grosseiramente
-Eu sei que você está triste, mas não deveria ficar sozinha
-Mas eu quero – insisti
         Ele me encarou, mostrando que não sairia tão cedo. Resolvi me abrir.
-Nós éramos amigas de 10 anos! – expliquei
-Eu e meu pai éramos de 22! – ele argumentou
         Até que esse era um bom argumento.
-E como você superou? – perguntei
-Ainda não superei. Continuo acordando no meio da noite, pensando que poderia salvá-lo, que poderia impedir que isso acontecesse...
-Mas você não pôde. E se isso acontecer comigo? E se eu nunca superar? – perguntei
-Você vai superar, mas isso não acontecer num passe de mágica
-Talvez tenha razão... – enfim, concordei
-Tragédias acontecem por um motivo: para nos deixar mais fortes. Pense nisso – ele disse, saindo do quarto.
         Talvez ele tivesse razão. Eu poderia superar.

domingo, 21 de agosto de 2011

76- Questão de Honra (Parte 2)


         A partir daquele momento, eu jurei a mim mesma que iria pegar Sean. Estávamos todos muito abalados com aquilo, então não sabíamos o que fazer com o corpo.
-O que... o que a gente faz com... com o corpo? – perguntou Rafah, ainda estranhando chamar Manu de “o corpo”
-Vou levá-la ao hospital – disse Lucas S – Vou dizer que fomos assaltados e ela reagiu. É convincente.
-Allanis, você está bem? – perguntou Jose
-Não – respondi – Minha melhor amiga morreu, então não. Eu não estou bem
-Vou levá-la – disse Lucas S
-Vou com você – disseram Bianca e Kel
         Me sentei no chão e fiquei parada, muda.
-Olha, – começou Pattison – Eu sei que está sendo difícil...
-Me deixa sozinha, tá legal? – eu disse
         Ele se levantou e foi junto com o resto do pessoal.
         Me lembrei de quando ela se gabava quando acertava algo. Era irritante, mas, pelo menos, ela estava viva. Eu sabia que devíamos dizer adeus às pessoas que amamos, mas acho que não estava preparada para me despedir de uma amizade de 10 anos.

PDV do Lucas S

         Nós a levamos até o hospital da cidade e eu disse que tínhamos sido assaltados. As enfermeiras levaram ela para uma sala, tentando reanimá-la. Eu já sabia que elas não teriam sucesso.
-Sinto muito pela sua perda – disse uma das enfermeiras
-Posso ficar a sós com ela por um tempo? – perguntei
-Claro – respondeu a enfermeira
         Entrei no quarto e fechei a porta.
-Você adora provar que está certa, não é? – eu disse, com lágrimas nos olhos – Sempre me lembro das suas palhaçadas – tentei rir – Você se gabando... Nunca pensei que fosse sentir falta disso. Você poderia ser meio chatinha, – ri com lágrimas nos olhos – mas vai fazer muita falta para nós. Para todos nós.
         Coloquei a mão sobre seu corpo e senti um volume no bolso de seu casaco. Abri o bolso e puxei um objeto estranho era um gravador com umas três fitas. Para que ela queria isso? Apertei o botão e saiu a voz de Sean, admitindo ser o assassino do pai de Jacob. E Manu. Ela tinha fitas extras caso Sean descobrisse uma delas.
-Boa garota! – eu disse, feliz por ter uma prova contra Sean
         Peguei o gravador, o guardei no bolso e saí do quarto.
-Como você está? – perguntou Nath
-Não muito bem, mas temos algo importante. Vamos até a Allanis. Agora! – eu disse

Fim do PDV do Lucas S

         Quando me levantei, pronta para ir ao hospital, e vi o pessoal chegando.
-O que foi? – perguntei
-Por favor, se acalme – disse Bianca – Temos uma revelação
-Qual?
-Sean matou o pai de Jacob... e Manu – disse Matheus
-Quer dizer que aquele DESGRAÇADO matou minha melhor amiga? – gritei
         Fiquei muda por uns instantes após ouvir a fita.
-O que a gente vai fazer? – perguntou Thaís
-Vingar Manu – respondi
         Fomos até a entrada da floresta que levava à reserva. Eu iria subir com a intenção de fazer Sean se render e ser preso.
-Vamos com você – todos disseram
-Não. Vou sozinha. Ele se sentirá confiante para admitir – eu disse
-Não – disse Jose – Se for sozinha, poderá ser a próxima
-Vou com ela – disse Lucas C – Vou como vento. Ele não verá que está acompanhada
         O pessoal concordou e eu e Lucas C subimos em direção à floresta. Assim que chegamos, fui falar com Sean.
-Sei de tudo. Pode se entregar – eu disse, seriamente
-Sabe de que? – ele perguntou
-Que você matou o pai de Jacob e minha amiga Manuelle – respondi
-Quanta tolice! – ele disse
-Deixa de jogos. Tenho uma fita com a confissão – eu disse
-Sua... Sua...
         Ele se rapidamente se transformou em um enorme lobo ruivo.
-Você vai pagar com a vida – disse Jason
         Sean pulou na minha direção, quando Lucas C saiu da forma de vento e lançou uma rajada de fogo contra Sean, que começou a gemer de dor, enquanto morria queimado.
-Isso é o que ganha quando mata um de nós – eu disse
         Os outros lobos vieram nos atacar, mas Lucas os incendiou como fez com Sean.
-Enfim, acabou – disse Lucas
-Não. Ainda não acabou – eu disse
         Descemos a montanha e fomos falar com o pessoal.
-E aí? – perguntou Ana
-Todos. Já eram – respondeu Lucas C
-Eu te conheço, Allanis – disse Nath – O que falta?
-Vou ligar pra mãe de Manu – eu disse
         Peguei meu celular e liguei para a casa de Manu.
-O que tenho a dizer não é fácil... – comecei
-O que foi? – perguntou a mãe de Manu, preocupada – Aconteceu algo com a Manuelle?
-Fomos assaltados e... ela... – engasguei
-Não! Não! – ela gritou
         Jose e Kel me avisaram que o corpo seria enviado ao Brasil, onde seria o enterro. Pedimos que Pattison nos levasse até a cidadezinha onde morávamos quando pequenos.
         No enterro, tocava “Misguided Ghosts”, do Paramore.

I'm going away for a while (Estou indo embora por um tempo)
But I'll be back, don't try to follow me (Mas eu vou voltar, não tente me seguir)
'Cause I'll return as soon as possible (Porque eu vou voltar o mais rápido possível)
See I'm trying to find my place (Veja, estou tentando achar o meu lugar)
But it might not be here where I feel safe (Mas pode não ser aqui o lugar onde eu me sinta segura)
We all learn to make mistakes (Todos nós aprendemos a cometer erros)
And run (E fugir)
From them, from them (Deles, deles)
With no direction (Sem direção)

-Por que alguém faria isso a ela? – perguntou a mãe de Manu, entre lágrimas
-Quem fez isso foi uma pessoa má. Pessoas más não pensam – eu disse
         Jose nos chamou para nos despedir. Estavam enterrando o caixão. Os olhos de todos estavam encharcados, menos os meus. Estava tentando ser forte.
         O padre me chamou para falar.
-Sabe, ainda nem me caiu a ficha. Há dois dias, estávamos nós duas juntas, zoando e falando sobre garotos. Agora, aqui estamos nós. Manu era o tipo de pessoa que não ficava parada. Quando éramos crianças, meu cachorrinho tinha morrido e eu estava me acabando em lágrimas. Ela me puxou pelo braço, ligou o celular bem alto e nós duas começamos a dançar. Sempre tentando fazer o melhor para nós, sempre nos ajudando... E agora, ela está sendo...
         Eu engasguei. Tentei falar, só que entrei em choque, pois eu tentava falar e conter as lágrimas. Sem que eu conseguisse evitar, as lágrimas insistiram em percorrer meu rosto.
-Agora, ela está sendo enterrada. Minha melhor amiga está sendo enterrada – eu disse, entre lágrimas
         Saí dali e me juntei às pessoas que estavam no enterro.
         Nuvens escuras cobriram o sol e logo começou a chover.
-Acho que não estou preparada para dizer adeus – eu disse
-Ninguém está. Mas uma hora todos devemos dizer adeus – disse Lucas S
         Olhamos para o céu escuro, enquanto gotas de chuva nos encharcavam.
-Adeus, Manu. Sentiremos sua falta – eu disse, fechando seu caixão

“Coragem não é a ausência do medo. É agir apesar do medo”
                                 Two and a Half Men

75- Questão de Honra (Parte 1)

“Não é preciso sangue e morte para uma tragédia. Basta apenas estar repleto de imensa tristeza”
                                                  -Criminal Minds

         Naquela manhã eu estava tão cansada que resolvi continuar mais alguns minutos deitada, porém fui interrompida quando flocos de neve começaram a cair sobre meu rosto. Arrastei-me até a janela e a fechei. Já eram 9:30, então resolvi descer.
         Todos já estavam de pé. Alguns tomavam café, outros liam o jornal, outros ouviam música ou apenas conversavam.
         Fui até a sala e vi que Jen e Eric estavam assistindo o filme dos Smurfs. Aqueles bonecos sempre me deram medo (nem sei por que).
         Voltei para a cozinha, me sentei e pus meu café.
-Já estão todos acordados? – perguntei
-Quase todos – disse Thaís
-Quase? Achei que eu fosse a mais preguiçosa – brinquei
-Que nada, Manu parece um bicho-preguiça – disse Ana, fazendo todos a mesa rirem
-Vou acordar ela – eu disse, me levantando
         Subi as escadas e assim que cheguei em seu quarto, bati três vezes, mas ela não atendeu. Girei a maçaneta e entrei.
-Vamos, acorda mocinha – eu disse, batendo palmas
-Me deixa dormir – ela repetiu várias vezes
         Achei aquilo estranho e puxei o edredom. Havia uma boneca com uma peruca e, ao lado, um gravador repetindo: “Me deixa dormir”. Desci correndo para contar ao pessoal.
-Manu sumiu – eu disse
-Como assim ela sumiu? – perguntou Kel
-Sumiu, desapareceu, puft – eu disse, preocupada
-Você esqueceu de uma coisa – disse Matheus, se aproximando com um papelzinho na mão.
-O que é isso? – perguntei, pegando o papel
         Havia uma mensagem que dizia: “Já estarei longe quando lerem esta carta. NÃO VENHAM ATRÁS DE MIM.        Manu”
         Amassei o papel.
-Faz ideia de onde ela esteja? – perguntou Lucas C
-Eu sei onde ela possa estar – eu disse, séria
         Pedi a Lucas C transportar todos para Forks. Talvez se fôssemos todos juntos, conseguíssemos impedí-la de fazer alguma besteira.
-Em uma cidade tão pequena como essa, não será difícil de achá-la – disse Jose
-Ela está na reserva. Consigo captar seus pensamentos – disse Lucas S
         Todos os telefones começaram a apitar. Era uma nova mensagem de voz da Manu.
-Preciso de ajuda! Rápido! – ela dizia, desesperada
         Todos receberam a mesma mensagem.
         Começamos a correr em direção a La Push, em direção a casa de Jacob – o lugar mais provável de ela estar.
-Jake, você viu a Manu por aqui? – perguntou Kah
-Há algumas horas ela passou por aqui – ele respondeu seriamente
-Estamos querendo saber se ela está aqui agora! – disse Jose
-Agora não. Saiu tem horas já – ele disse – Aliás, já é a quarta vez que vejo ela por aqui.
-Quarta vez? - eu disse, ficando mais preocupada com o rumo dessa história
         Peguei meu celular e verifiquei a hora da mensagem de voz.
-8:35 – sussurrei para Lucas S – São 11:20. Precisamos correr se quisermos achá-la

Algumas horas atrás... (PDV da Manu)

         Atravessei a floresta o mais depressa possível. As gotas da chuva que caíam sobre minha face já não me arrepiavam mais.
         Eu sabia – em parte – que eu estava “brincando com fogo”, mas eu precisava mostrar a Jacob que eu era capaz de fazer qualquer coisa e eu estava disposta a enfrentar qualquer coisa – até a morte, se fosse preciso.
         Cheguei na reserva de Sean, pronta para confrontá-lo.
-Você aqui de novo? É um prazer revê-la – ele disse, sarcasticamente
-Idem – eu disse, séria
         Acionei o gravador dentro de meu bolso.
- O que deseja?
-Deixa de ser cínico! Só temos nós dois aqui. Admita o que fez! – eu disse, levantando o tom de voz
-Eu não tenho nada a admitir. Não fiz nada de errado
-Mentiroso! Você matou Billy Black! – gritei
         Ele ficou visivelmente irritado, mas não o suficiente para se transformar.
-Você já fez esse jogo antes...
-Então não se importa de jogar de novo, não é? – eu disse, bem séria – Vamos! Você mesmo disse que não tem como os outros acreditarem. Então, confesse!
-Eu... matei Billy Black. Feliz agora? – ele disse
-Muito! – eu disse, parando a gravação
-Só que terei que lhe matar também. Acha que sou idiota? Vamos, me entregue o gravador – ele disse, sério
         Entreguei-lhe o gravador e uma fita vazia. Guardei a gravação no bolso do casaco.  Ele amassou o gravador e o jogou num rio. Um segundo depois, ele puxou uma arma e apontou em minha direção.
-Por que não se transforma? – perguntei
-Se eu destroçar seu corpo, vão descobrir que fui eu. Quais são suas últimas palavras? – ele perguntou, com um sorriso malicioso
-Você não vai sair ileso desta! – respondi
         Logo, ele atirou em mim.
-Levem ela para longe – ele ordenou aos seus comparsas

Fim do PDV da Manu

Presente:

         Ouvimos um barulho de um tiro e apressamos o passo em direção à reserva de Sean.
-Onde ela está? – perguntei, preocupada e nervosa ao mesmo tempo
-Se esquecerem isso, os deixarei ir. Caso contrário, terei que matar todos – disse Sean
-Você não vai matar ninguém – disse Bianca – Porque se você mexer com um de nós...
-...irá mexer com todos nós – Nath completou
         Meu nariz ardeu com o cheiro de sangue. Avisei à Lucas S por pensamento e deixamos Sean de lado para procurar por Manu. Por causa de meu olfato aguçado, foi fácil achar Manu, mas não tão bem quanto eu esperava: havia um furo em seu abdômen. Corri até ela e segurei sua mão firmemente.
-Ela está perdendo muito sangue. Matheus, me dê sua camisa – disse Kel e assim ele fez – Lucas C, cheque o pulso
-O pulso dela está muito fraco – disse Lucas C – Temos que levá-la ao hospital
         Lucas S a pegou no colo.
-Nunca se esqueçam... que eu amo todos vocês. Obrigada por terem sido... e sempre serão... meus melhores amigos
         E então, seu pulso parou e seus olhos negros pararam encarando o vazio.
-Não! – gritei – Não! Temos que levá-la ao médico!
         Lucas se abaixou e a colocou no chão.
-Ela morreu... – ele disse, tentando segurar as lágrimas
-Cala a boca. Cala a droga da sua boca! – gritei, empurrando-o
         Ele me abraçou, sufocando minhas palavras. Eu desabei em lágrimas e, de repente, o que era tristeza se transformou em ódio. Sequei minhas lágrimas, me aproximei do corpo de Manu e sussurrei:
-Eu prometo: vou vingar você – eu disse, seriamente

CONTINUA...

74- A Doida


PDV do Matheus

3 semanas depois...

         Não tinha nada de bom na TV, nem nada de bom pra fazer, então me sentei no sofá da sala e fiquei ouvindo a conversa das meninas. Deviam estar falando sobre arco-íris, unicórnios ou fadas. Alguma coisa do tipo. (Autor: Me desculpa, mas não resisti à piada)
-Pra mim, um garoto tem que ser musculoso – disse Allanis
-Musculoso? Homem só precisa ter um músculo funcionando. O resto é besteira – disse Karol
         Aquilo foi um sinal de que eu precisava sair. Quando me preparei para ir, percebi que Ana vinha junto comigo.
-Você não vai ficar para ouvir a conversa sobre os “músculos do homem”? – perguntei
-Cruzes! Não, obrigada – ela disse, imitando calafrios
         Passamos na casa de Lucas C e perguntamos se ele queria sair com a gente. Julie estava viajando a trabalho e tinha levado Jen, ou seja, ele estava sozinho.
-Aonde vamos? – ele perguntou
-À boate! – eu e Ana dissemos em uníssono
         Fomos até uma boate que ficava a meio quilômetro da mansão. Era a boate mais popular da cidade. Todos iam lá. De longe, podíamos ouvir o som de “Don't Stop The Party”, dos Black Eyed Peas.
-Eu estava precisando disso! – eu disse, ao entrar na boate
-Talvez eu devesse voltar para casa – disse Lucas C
-Por quê? – perguntou Ana
-Sou casado. Que tipo de diversão posso ter aqui? – ele disse
-Você pode levar a gente pra casa – sugeri
-Acho que não. Vocês vão, com certeza, para a casa de outra pessoa no final da noite – ele disse, com desânimo
-Fica no balcão. Conversa com alguém – Ana sugeriu
-Conversar com quem? Com o barman?
-É, né... – eu disse, agora sem argumentos
         Eu e Ana fomos dançar, enquanto Lucas C ficava sentado sozinho no balcão.

Fim do PDV do Matheus

PDV do Lucas C

         Fiquei sentado no balcão, morrendo de tédio. Coloquei a cabeça no balcão e cobri os braços, tentando dormir. Fui interrompido por algo gelado encostando em meu braço.
-Aquela garota pagou esse drinque pra você – disse o barman, apontando para uma garota, do outro lado do balcão
         Que humilhante: ELA pagou o drinque para MIM. Fui até lá para conversar um pouco. Não tinha mais nada pra fazer mesmo.
-Foi muita gentileza, mas eu não bebo – eu disse
-Sério? Fazer desfeita é uma coisa muito feia – ela brincou – Só uns goles. Qual seria o problema?
-É, acho que não tem nenhum problema – eu disse, bebendo o drinque que ela me ofereceu
         Ficamos conversando por um tempo e eu comecei a me sentir um pouco tonto.
-O que foi? – a garota perguntou
-Nada. Só estou com um pouco de tontura – respondi
         Minha visão ficou embaçada e tudo começou a girar.

Fim do PDV do Lucas C

PDV do Matheus

         Me aproximei de uma garota enquanto dançava.
-Oi, qual seu nome? – perguntei
-Matheus! – gritou Ana
-Matheus? Que nome esquisito pra uma garota – disse
-Não, idiota! Sou eu te chamando – disse Ana, chegando por trás de mim
-Ah, o que foi?
-Lucas sumiu e não atende o celular – ela disse
-Tem certeza de que ele não está dançando?
-Estamos falando do mesmo Lucas? Ou você teve um surto de amnésia e esqueceu quem é Lucas Costa? – ela disse, de maneira sarcástica
-Esse garoto tem a facilidade para se meter em problemas como um gato num canil! – exclamei, nervoso
         Eu e Ana saímos da boate e fomos falar com alguém que pudesse ajudar.
-Eu vi ele sim – disse o manobrista – Saiu a pouco tempo com uma garota loira. Parecia meio tonto
-Meio tonto? Ela era gostosa??? – perguntei, interessado
-Matheus, foco! – Ana me deu uma cotovelada
-Tá legal – me recompus – Peraí, peraí: acompanhado por uma garota loira? Ele é casado!
-Eu sei. Qualquer um sabe. Mas foi o que eu vi – disse o manobrista
         Eu e Ana ficamos intrigados. Será que Lucas estava traindo Julie?

Fim do PDV do Matheus

PDV do Lucas C

         Acordei numa cama, em um quarto que eu não conhecia. Meus pés e mãos estavam amarrados mas eu ainda estava vestido.
-Onde eu estou? – eu disse
-No meu quarto – disse a garota que encontrei no bar
-Como... Como... – dei uma pausa e continuei: - Como???
-Primeiro, coloquei um sonífero no seu drinque. O resto foi isso aí – ela disse, com um sorriso besta no rosto – E nem tente se soltar. Esses cabos são reforçados com aço.
-Que eu posso derreter – eu disse
-Não pode, não. Coloquei um inibidor de poderes na bebida também. Está fraco demais para usá-los
         Ela estava certa. Tentei derreter os cabos e não adiantou.
-Por que você fez isso? – perguntei
-Sou uma super fã sua. Só queria ter você por perto – ela disse, de novo, com o sorriso besta – Prazer, sou Melissa
         Revirei os olhos e disse o mais sarcástico possível:
-Prazer, sou a Jennifer Lopez
-Bobinho – ela disse, apertando minha bochecha
         Ela me deixou sozinho no quarto e eu procurei um jeito de me soltar.
-É por isso que eu prefiro o anonimato: nada de fãs malucas – eu disse, aborrecido.
         Enquanto eu tentava me soltar, eu ouvi um barulho vindo do lado de fora. Parecia um barulho de carro. Depois, arrombaram a porta. Eram Matheus e Ana. Eles levaram um susto ao ver meu estado. Depois, me soltaram.
-E a doida? – perguntei
-A polícia já levou – disse Ana
-Por que você não se soltou? – perguntou Matheus
-Os cabos são de aço e ela colocou um inibidor de poderes na minha bebida – respondi
-Primeiro, esses cabos não são de aço – disse Matheus – e, segundo...
         Ele bebeu um pouco do drinque e, logo depois, fez a escrivaninha ser desintegrada.
-Mas como? – disse, confuso
-Não tem nada aqui – ele disse
-Ela usou placebo. A desgraçada é inteligente ainda por cima! – exclamei
-Bom, agora eu sei porque você não bebe – Ana brincou

73- Não Pare a Festa


1 mês depois...

         Nath estava de olhos arregalados, seu coração quase pulava pela boca. Marcelo também estava igualmente nervoso. Parecia o final de uma novela, quando vamos descobrir o assassino.
-Parabéns... – começou Ana – Rufem os tambores, preparem seus corações, liguem os motores...
-Fala logo, porcaria! – gritou Nath
-Parabéns, é uma menina! – disse Ana
-Há! Toma essa, Matheus! Eu disse que era menina! Tá me devendo 20 paus! – Nath gritou
         Marcelo pigarreou e Nath desceu da cadeira para abraçá-lo.
-Está feliz, Nath? – perguntou Marcelo
-Se estou! – ela disse
-Como quer comemorar? – perguntei
-FESTA! – disse Nath
         Entramos em nossos respectivos carros e fomos para a mansão. Liguei o som no máximo, tocando “Countdown”, da Beyoncé.

Boy, oh killing me softly (Me matando suavemente)
And I'm still falling, still the one I need (E eu ainda estou apaixonada, ainda é de quem preciso)
I will always be with you (Sempre estarei com você)
Oh you got me open (Oh, você me pegou desprevinida)
Don't ever let me go (Nunca me deixe)
Say it real loud if you fly (Diga bem alto que arrasa)
If you leave me you out of yo mind (Se me deixar, você é maluco)

         Nath subiu na mesa e começou a dançar.
-É impressão minha ou ela tá mais hiperativa que o normal? – disse Bianca
-São os hormônios da gravidez – disse Lucas C
-Julie ficou assim? – perguntou Rafah
-Graças a Deus, não – ele disse rindo
         Eu e Manu fomos para a cozinha, preparar a comida e a bebida.
-A família está aumentando! – ela disse
-É mesmo! – concordei
         Nós duas servimos o pessoal. Depois que acabamos, fui no 2ª andar pra trocar de roupa.
         Quando voltei, acabei pisando num brinquedo de Eric e caí da escada. Todos me encararam, preocupados.
-Eu tô bem! – eu disse, descabelada
         Durante a festa, Nath foi ao banheiro e pegou vários testes de gravidez.
-Acho que não vou mais precisar deles – ela disse, rindo
          Ela os deu para as meninas, para elas saberem se “estão grávidas”.
-O meu deu negativo! – eu disse
-O meu também – disse Rafah
-Idem – disse Bianca
-Karol, Ana, e o de vocês? – perguntou Nath
         Elas estavam paralisadas, encarando deus testes. Isso já servia de resposta.
-O resultado foi...? – perguntei
-Positivo – elas responderam em uníssono
-Vocês estavam preparadas? – perguntou Nath
         Elas sacudiram a cabeça de um lado para o outro em resposta.
-O que vamos fazer? – disse Ana – Quero dizer, como vou cuidar de um filho?
-Nós estamos aqui para ajudar – eu disse
         Nath segurou a mão das duas e com um sorriso disse:
-Nossa amizade é tão grande que nós até engravidamos juntas!
         As três se abraçaram, com lágrimas nos olhos.

Obs: Me desculpem pelo capítulo simples, mas eu tive que adiantar alguns capítulos e nem todos eu pude dar o "meu melhor". Espero que tenham gostado!  :-)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

72- Em Choque

         Acordei no horário de sempre e desci para a cozinha. Embora fosse meu dia de folga, eu gostava de tomar café com o pessoal.
-Oi, pessoal! Tudo de boa? – eu disse, ainda sonolenta
-Tenho que ir. Estou atrasada – disse Kah
         Ela e Kel saíram às pressas para o trabalho.
-E aí, Ana? Tudo...
-Desculpa, querida; Também tenho que ir – ela disse, saindo correndo
         Só sobraram Bianca e Matheus sentados à mesa.
-Cadê o resto do pessoal? – perguntei
-Karol saiu ontem com o Léo e ainda não chegou; Manu disse que ia resolver uns lances do trabalho e Rafah viajou para um desfile no Canadá – disse Bianca
-Lucas C foi gravar a participação dele em “CSI” e eu tenho que meter o pé – disse Matheus
-Eu também – disse Bianca, pegando sua pasta de trabalho
-E eu? Vou ficar sozinha?! – questionei
-Nath também está de folga. Vocês podem fazer companhia uma à outra – sugeriu Matheus
         Assim que eles foram embora, passei na casa de Nath.
         Na sala, Eric brincava com alguns bonecos. Percebi que meu brinco estava levitando. Era óbvio que ele havia puxado ao pai quanto aos poderes.
-Tia Lanis! – ele disse ao me ver
         Peguei ele no colo e fui até a cozinha, onde estava Nath. Ela preparava um sanduíche de pepino, chocolate e queijo ralado. Só de ver o sanduíche dava vontade de vomitar. Me segurei para não dizer “eca”.
-Oi, querida! Tudo bem? – ela disse
-Tudo! – ainda segurando o “eca” – Que... lavagem é essa?
-Ah, isso? Uma receita que vi na internet. Quer um pedaço?
         Segura o “eca”, segura o “eca”!
-Não, obrigada – respondi
         Recusei educadamente, mas pude sentir o café da manhã voltando.
         Enquanto ela comia seu “X-Lavagem”, eu brincava com Eric. Deixei meus brincos com ele para que ele treinasse seus poderes. Ele tinha apenas 1 ano e 9 meses e já conseguia usar seus poderes. A puberdade seria o menor dos problemas de Nath.
         Fiquei um tempo com eles dois. Depois de um tempo, o “X-Lavagem” fez efeito.
-Droga! Não devia ter colocado chocolate! – disse Nath
-Como é? – eu disse, sem entender
         Nath saiu correndo em direção ao banheiro e foi vomitar.
-Sabia que você não devia ter comido aquela nojeira! – briguei com ela
-Eu tô passando mal e ainda levo bronca? – ela reclamou
-Foi mal...
         Depois, ela veio chorando, querendo assistir “Titanic”.
-Por que você tá chorando? – perguntei, preocupada
-Porque eu quero, porra! – ela gritou
-Calma! Só estou preocupada!
-Vai se preocupar com a avó!
         Logo depois, ela ligou o rádio e começou a dançar.
-O que houve com o “quero ver Titanic”? – perguntei
-Titanic é muito deprê! Eu feliz com a vida! Quer dançar? – ela disse, pulando
         Peguei meu celular e liguei para Matheus.
-Matheus, sua prima tá me assustando – eu disse
-Só agora? – ele disse, num tom irônico
-Ela está estranha. Mais do que o normal
-E isso é possível? Bom, pra qualquer caso, é só dar o calmante dela – ele brincou
-E um remédio para vômito. Ela botou tudo pra fora umas 2 vezes, já!
-Remédio pra vômito? Mais estranha do que o normal? Da última vez que isso aconteceu... Leve ela para o médico. Te encontro lá – ele desligou
         Seu tom de voz parecia misturar preocupação e felicidade. Será?
         Eu levei Nath até o carro e coloquei Eric na cadeirinha. Levei ela até a “LA Medical Centre”, onde Ana trabalha.
-Por que você me trouxe pro hospital? – perguntou Nath
-Na verdade, nem eu sei – respondi
         Matheus nos esperava em frente ao hospital.
-Já consegui arranjar uma vaga com a Ana – ele disse
-O que é que está acontecendo aqui, droga? – Nath gritou
-Calma, calma – eu disse
-Deu o calmante dela? – Matheus sussurrou
-Você não estava brincando? – eu disse, surpresa
         Matheus foi no carro e pegou Eric. Nós 3 fomos até uma sala onde Ana esperava pela gente.
-Matheus me falou que você está passando mal e tendo crises bipolares, certo? – disse Ana
         Ela afirmou com a cabeça.
-Eu acho que sei o que é – Ana disse, com um sorriso
-E aí? É bom ou ruim? – perguntou Nath
-Ainda não sei ao certo, mas se for o que estou pensando, você já passou por isso antes – ela respondeu
         Ana levou Nath para fazer uns exames, enquanto eu e Matheus esperávamos.
-O que a Ana quis dizer com “ela já passou por isso antes”? – perguntei
-Sério? Você não entendeu? Você prestava atenção nas aulas de Ciências da 7ª série? – ele disse
         Depois de alguns minutos, as duas voltaram e Nath se sentou. Estranhamente, ela parecia calma. Eu devia estar mais nervosa que ela.
-E aí, Ana? E aí? E aí? – Nath perguntou
-Nath – começou Ana, fazendo um mistério – você... está grávida!
         A sala ficou em silêncio. Nath ficou paralisada como uma estátua. Matheus parecia ter acabado de ganhar uma aposta. Logo, algumas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Nath.
-Olha, Nath, eu sei que é complicado – comecei – mas nós estamos aqui. Podemos te ajudar. Não fique triste
-Não estou triste. São lágrimas de felicidade – ela disse
-Ela é assim mesmo: chora quando está feliz e ri quando está triste – brincou Matheus
-Se eu não estivesse grávida, já teria acabado com sua raça – ela disse, rindo e chorando ao mesmo tempo – Mas estou feliz demais pra bater em você. Estou grávida! – ela deu um gritinho
-De 3 meses – completou Ana
-De 3 meses! – Nath completou, dando outro gritinho – Venham, venham, me abracem – ela riu
         Nós 3 a abraçamos. Ela pegou Eric no colo e disse:
-Ouviu isso? Você vai ter um irmãozinho – ela disse, entre lágrimas
         Então é isso. A família vai aumentar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

71- A Primeira Vez

Atenção: O conteúdo deste capítulo pode ser inapropriado para alguns leitores, se desejar, não leia-o

PDV da Karol

         Lápis, blush, pó de arroz, batom e delineador. Sombra, brilho, base, cabelos cacheados. Tinha que ficar perfeita. Coloquei um vestido vermelho. Na hora de passar o batom, Allanis entrou no quarto. Levei um susto e risquei a bochecha.
-Batom na bochecha? É nova moda? – ela riu
-Haha. Eu vou a um encontro. Aliás, valeu pelo susto – eu disse, limpando a bochecha
         Assim que acabei, passei na Nath, pois queria ter uma conversa séria.
-Olha, hoje eu tenho um encontro – comecei – Já saímos há um certo tempo e acho que ele quer passar pro próximo nível
-Você quer dizer – ela tapou os ouvidos de Eric – sexo?
-Ele não entende! Diz logo SEXO! – falei alto
-Sexo – repetiu Eric
         Nath me fuzilou com os olhos.
-Foi mal – me desculpei
-Continue – disse Nath, séria
-Estou com medo. É a minha... minha primeira vez
         Nath parou um pouco. Pensou por um tempo e disse:
-VOCÊ, Karoline Siqueira, é virgem? VOCÊ? SÉRIO?
-Por que achou que eu não fosse virgem?
-Nada, não – ela disfarçou
-Estou com medo – disse novamente – Como foi sua primeira vez? Ficou com medo?
-Numa mesa de sinuca. Não tive medo não. Aprendi muito com o Google
-Google?
-Esquece – ela disfarçou – Apenas aja naturalmente
-Pra você é fácil falar
-Apenas não tenha medo, ok?
-Acho que consigo
         Fiquei esperando por Léo, meu namorado, na frente da mansão. Ele chegou com uma Ferrari vermelha.
-Pronta? – ele disse
-Ahan – sacudi a cabeça
         Entrei no carro. Havíamos combinado de ir a um restaurante, mas notei que estávamos indo para o lado errado.
-Para onde estamos indo? – perguntei
-É surpresa – disse Léo
         Depois de 20 minutos na estrada, paramos em frente a uma linda casa, com um jardim enorme na frente.
-Damas primeiro – ele disse
         Lá dentro, haviam várias velas. No rádio tocava  “Be On You”, do Flo Rida com o Ne-Yo.

I said excuse me little mama if I may (Eu disse “Com licença, gatinha, eu posso)
Take this thought and send it your way (Pegar esse pensamento e mandar na sua direção?)
And if you don't like that, then send it right back,  (E se você não gostar, é só mandar de volta)
But I just gotta say (Só tenho a dizer)
I wanna be on you (on you) (Eu quero estar em você)
I wanna be on you (on you) (Eu quero estar em você”)

-Que lindo! – exclamei
-É pra você. Sente-se. Vou buscar um vinho
         Quando fui me sentar no sofá, ouvi um berro. Eu tinha sentado em cima do gato do Léo.
-Ah, me esqueci. Cuidado com o sr. Bigode – ele disse, da cozinha
         Logo depois, ele chegou com o vinho e um balde de gelo. Iríamos assistir “O Amor e Outras Drogas”.
-Se divertiu? – ele disse, depois que acabamos de assistir o filme
-Muito – respondi – Quais são seus planos agora?
-Eu tenho um plano
-Qual?
-Esse – ele se aproximou e me deu um beijo
         Nos deitamos no sofá. Aos poucos, fui desabotoando sua camisa e tirando os sapatos. Ele passou a mão na minha bunda e eu dei um tapa nele.
-Foi mal. Força do hábito – eu disse
         Ele abaixou a alça do meu vestido.
-Acho melhor ficarmos no escuro – ele disse, apagando as velas
         Depois, ele começou a tirar o meu vestido. Acabei ficando nervosa e pedi para ele parar.
-O que foi? – ele perguntou
-Me desculpa, é que... – não consegui achar as palavras exatas
-Você é virgem?
         Balancei a cabeça em resposta à sua pergunta. Depois, ele disse algo que eu não esperava:
-Na verdade, eu também sou
-Sério? – perguntei
-Então, vai ser especial para nós dois
         Voltei a beijá-lo e tirei seu cinto. Ele tirou meu vestido e arrancou meu sutiã.
-Ai! – gritei
-Eu ainda não comecei – ele disse
-Me desculpa, estou ansiosa
         Eu estava bastante nervosa, mas em comparação à mesa de sinuca, aquilo não era nada. Então, me acalmei e deixei rolar
***
-Foi ótimo! – ele disse
-É! – concordei, ainda sem fôlego
-Não teria conseguido sem você – ele brincou
         Definitivamente a primeira vez eu nunca vou esquecer.

70- O Papai Chegou

         Estávamos todos sentados em frente à TV, assistindo “CSI: Miami”. Já havia se passado meia-hora e os únicos que estavam realmente assistindo eram Lucas C e Bianca.
         Enquanto eu fingia assistir, Pattison me cutucou e sussurrou em meu ouvido:
-Que tal se fizermos um piquenique amanhã?
-Claro! Ótima ideia! – disse, empolgada
         Voltei a assistir o programa, quando a campainha tocou.
-Quem será? Já são 22:30! – disse Rafah
         Me levantei e fui até a porta. Quase desmaiei ao ver quem estava na porta: meu pai.
-Pa... Pa... Pai???? – finalmente consegui dizer
-UH! UH! PAPAI CHEGOU! – todos cantaram em coro só pra me irritar
-Oi, pai! – fingi estar feliz – O que você faz aqui? Sério: O QUE você faz aqui?
-Vim fazer uma visitinha – ele disse
         Conhecendo ele há 23 anos, era fácil descobrir quando ele estava mentindo.
-Não vai me apresentar os seus amigos? – ele perguntou
         Ainda um pouco irritada, apresentei todos a ele. Deixei Pattison por último.
-Esse é Pattison, meu... amigo – menti
         Pattison não conseguiu disfarçar a careta.
-E há quanto tempo são... amigos? – perguntou meu pai
-Viramos agora – Pattison respondeu, ironicamente
         Meu pai se sentou no sofá e começou a assistir TV junto com a gente. Assim que acabou “CSI: Miami”, ele começou a contar histórias da minha infância.
-Uma vez, ela fez um poema para um garoto de 14 anos. Ela tinha 7! – ele disse, rindo
         Todos começaram a rir. Eu me escondi atrás do sofá.
-Quer dizer que você gosta de “homens mais velhos”? – disse Ana, rindo
         Ele ficou contando histórias constrangedoras sobre mim por 1 hora e meia! Logo depois, ele quis saber onde poderia dormir. Eu disse que poderia ficar no meu quarto.
-Por que você dorme numa cama de casal? – meu pai perguntou
-Você sabe, sou espaçosa – menti, de novo
         Peguei meu travesseiro e meu cobertor e fui deitar no sofá. Pattison estava lá.
-“Amigos”? – ele questionou
-Foi mal, fiquei nervosa – eu disse – Sofá ou chão?
-Sofá! – ele disse, mal-humorado
         Deitei no chão e tentei dormir. A ideia de ter meu pai na mansão, contando histórias constrangedoras e me fazendo passar vergonha me deixava maluca.
         No meio da noite, Pattison veio se deitar comigo.
-Sabe, ainda estou irritado. Mas você pode compensar – ele disse, beijando meu pescoço
-Gostei da ideia – eu disse, rindo
         De repente, a luz se acendeu.
-O que vocês estão fazendo? – perguntou meu pai
-Respiração boca-a-boca. Ela parou de respirar – disse Pattison
         Pattison começou a socar meu peito, fingindo que estava me salvando.
-Ai, meu peito! – gritei
         Todos acordaram. Pouco tempo depois, todo mundo estava na sala. Nath tirava fotos com o celular.
-Essa vai pro twitter! – ela disse
         Depois disso, meu pai me levou no hospital, achando que eu estava morrendo. Tiraram meu sangue e depois meu pai ainda pediu para me testarem para sífilis e gonorreia.
-Sabe, filha – começou meu pai – você é mulher, tem suas necessidades. Você pode ter ficado com alguém na balada e pego uma doença
-Eu não tenho DST! – gritei bem alto
         Todos no hospital pararam e me olharam, assustados.
-Ai, meu Deus – eu disse, tapando o rosto
         E quando eu achava que não podia ficar pior, meu pai grita para a enfermeira:
-O teste para DST da minha filha já está pronto?
         O pessoal, que estava no final do corredor, morria de rir. Karol e Lucas C caíram no chão de tanto rir.
-Eu não tenho DST, pai – falei, desta vez, baixinho
-Não tem como saber. Às vezes, você sente uma coceirinha, mas pode ser algo mais – ele disse
         Tapei meus ouvidos e comecei a cantar.
         No final, o teste deu negativo. Voltamos para a mansão depois disso tudo.
-Então quer dizer que você sentiu uma coceirinha? – disse Matheus, rindo
-Não enche, Matheus – eu disse, irritada
         Chegamos em casa e eu me joguei no sofá. Bianca ligou a TV num desenho. Sabe o nome do desenho? “Comichão e Coçadinha”.
-Qual é, Bianca! – exclamei
-Que foi? Pensei que fosse gostar – ela disse, rindo
         Me levantei e fui para meu quarto. Meu pai me interrompeu no meio do caminho.
-Você está bem? – ele perguntou
-Não. Meu namorado está com raiva de mim, todos acham que eu tenho DST e meu novo apelido é “Coceirinha”. Tudo por sua causa. Eu te odeio! – gritei e bati a porta do quarto.
         Pulei na cama e soquei o criado-mudo. Com certeza, esse era o pior dia da minha vida.
         Pouco tempo depois, meu pai bateu na porta.
-Posso entrar? – ele perguntou
-Não – eu disse, irritada
         Ele entrou mesmo assim. Odiava quando ele fazia isso.
-Você... tem vergonha de mim? – ele perguntou
-O que? Não – eu disse
-Então, por que não me contou sobre o Pattison?
-Como...?
-Seu irmão me contou. Mas a questão é: por que você mentiu?
-Tinha medo do que você poderia fazer. E no final teve esse lance da DST, a coceirinha...
-Se você tivesse me contado a verdade, não teria passado por isso
-Me desculpa, pai – eu disse, abraçando-o
-Eu também preciso me desculpar. Em parte, a culpa foi minha
         Fomos explicar tudo ao Pattison. Depois, meu pai foi arrumar as malas.
-Você não vai ficar mais um pouco? - perguntei
-Pelo amor de Deus, não! É muita correria nessa casa. Não tenho mais fôlego para isso tudo
-Manda um beijo pra mamãe. E um soco pro Tales, tá legal?
-Tá legal
-Tchau, pai
-Tchau, filha
         Eu o abracei novamente e me despedi dele. Ok, talvez não tenha sido o pior dia da minha vida. O segundo, talvez.

Feliz dia dos pais para todos   ;)             Por::. Lucas Cordeiro