PDV da Ana
Meu celular despertou. Era hora de ir pro trabalho. Rapidamente, tomei uma ducha fria para acordar, escovei os dentes e vesti meu jaleco. Depois, desci para tomar café. Eram 06:30 da manhã e os únicos acordados eram Bianca, Thaís e Allanis.
-Bom dia - cumprimentei
-Bom dia – elas responderam
Coloquei o café na xícara e bebi tudo de uma vez. As meninas olharam assustadas.
-Seu trabalho é uma correria, né? – disse Thaís
Balancei a cabeça. Havia queimado a língua.
Peguei minha pasta e me preparei para ir.
-Sabe, nunca imaginei que você fosse virar médica – disse Allanis
-Não é a primeira vez que me dizem isso – eu disse, rindo
Eu contei. Era a 87ª vez que me disseram isso.
Entrei em meu carro e dirigi até o “LA Medical Centre”. Esse é o melhor hospital de toda a Califórnia. Adoro dizer que trabalho lá. É uma das poucas coisas com as quais eu me gabo.
-Oi, Helen. Que caso nós temos hoje? – perguntei ao chegar
-Homem, 32 anos. Reclama de fortes dores no estômago e vômito – ela respondeu
Helen e eu trabalhávamos na mesma equipe. Era a minha melhor amiga no hospital e a única de lá em que eu confiava.
Fomos até a sala onde ficava a nossa equipe para tentar descobrir o que o paciente tinha. Explicamos o caso, mas John, o nosso chefe, ficou imóvel. Ninguém da equipe entendeu. Depois de alguns minutos, ele finalmente abriu a boca.
-Vocês sabem o quanto adoro trabalhar com todos vocês – ele começou – Estamos juntos há 3 anos. Mas trabalho nesse hospital há 15. Estou envelhecendo... e é por isso que estou abandonando a equipe
-Como? Não pode abandonar a equipe! – exclamei
-Posso sim – ele disse, rispidamente
-E quem vai... assumir seu posto? – perguntou Helen
-Simples: quem resolver esse caso será o novo chefe da equipe
Ele saiu da sala e deixou eu, Helen e o resto da equipe sozinhos. Rapidamente, todos começaram a analisar os sintomas. Todos menos eu. Minha intuição dizia que era câncer. Segui minha intuição e no final:
-O teste deu positivo pra câncer – Helen disse, relutante
Helen e eu sempre fomos muito amigas, mas senti um pouco de rancor em sua voz naquele momento.
Assim que contei ao John, ele me parabenizou e disse para supervisionar o paciente, que estava sendo medicado e aguardava por uma cirurgia.
Fiquei na sala do paciente, cuidando dele enquanto esperava pela cirurgia, quando Helen chegou com uma xícara de café.
-Obrigada - agradeci
Depois de alguns minutos, resolvi falar:
-Como você está?
-Como assim?
-Você sabe muito bem. Queria esse cargo tanto quanto eu – disse, seriamente
-Estou legal. Você merece – ela deu um sorriso forçado e saiu da sala
Conforme o tempo foi passando, fui ficando cansada e caí no sono.
De repente, acordei com o barulho dos aparelhos do paciente. Um grupo de médicos, incluindo Helen, tentava reanimar o paciente.
-O que houve? – perguntei assustada
-Não se faça de sonsa – respondeu Drake, um dos médicos
Eles tentaram de tudo, mas não conseguiram. O paciente perdera a vida.
John estava do lado de fora da sala e me encarava com um olhar de reprovação.
-Achei que pudesse confiar em você? – ele disse
-Como é? Você acha que é minha culpa?
-Guarde isso para a polícia
-Wow! Calma aí. Polícia?
-Eutanásia é crime
Como? Por que eles me acusavam de eutanásia se eu não tinha feito nada?
***
Não demorou para que os policiais chegassem. Nem que me acusassem. Todos diziam que eu era a culpada, então fui a primeira suspeita. Dois caras grandões vieram falar comigo.
-Você matou Hoyt Beck? – assim, direto
-Não – respondi seriamente
Eles insistiram umas 5 vezes e eu continuei negando. Vi que eles não desistiriam, então resolvi cortá-los.
-Quem vai ser o novo chefe?
-Como?
-É uma pergunta simples. Respondam.
-Helen McDevitt – um deles respondeu
Foi aí que caiu a minha ficha. Como foi que eu não percebi?
-Vocês podem achar a pergunta estranha, mas... vocês tem alguma escuta ou gravador? – perguntei
***
-Precisamos conversar – eu disse
-Como você pôde fazer isso com aquele homem? – ela disse, impossível não notar a falsidade em sua voz
-Pode parar com os joguinhos
-Ufa! Não aguentava mais! – ela suspirou
-Por que matou aquele homem? E por que fez isso comigo?
-Por que o matei? Eu te dei um café batizado, você apagou e eu aproveitei a chance para aumentar a dose de medicamentos do paciente. Você seria a acusada e com você presa, eu poderia ser a chefe
-Pensei que fôssemos amigas – indaguei
-Você pensou. Não é verdade
Forcei lágrimas e voltei ao térreo. Entreguei a escuta aos policiais.
-Tá tudo aí – eu disse
***
-Como vocês já sabem, - John começou seu discurso – estou abandonando o hospital. Mas vou deixá-los em boas mãos. Ana será a nova chefe da equipe.
Dei um pulo em cima da mesa e gritei:
-Chupa, Helen!
Todos me olharam assustados. No hospital, não estavam acostumados com esse meu lado. Desci delicadamente da mesa e me recompus.
-Prossiga – eu disse, como se nada tivesse acontecido
No final, Helen foi presa, minha ficha foi limpa e eu assumi a equipe. Tudo bem quando acaba bem.
Fim do PDV da Ana