sexta-feira, 23 de setembro de 2011

91- Chegada

         Eu ainda estava confusa com todo aquele lance do Rio. Será que Lucas C seria capaz de me matar? Se Pattison não tivesse me tirado daquele depósito, Lucas me mataria?
         Terrível e eu tentávamos decidir um novo nome para a firma, mas eu acabava me distraindo.
-Tive a ideia perfeita: Terríveis’ Empresas de Turismo e Administração – ela disse
-T.E.T.A? – estranhei a sigla
-O que foi? Não gostou?
-É claro que gostei – menti
         Uma dica: se o apelido da sua chefe é Terrível, nunca discorde dela. Mesmo que você tenha que trabalhar numa empresa com o nome de “TETA”. Apesar de ser engraçado pensar em atender o telefone dizendo “Falando da TETA. O que deseja?”.
         Enquanto eu e Terrível conversávamos, meu telefone tocou.
-TETA, boa tarde – brinquei
         Matheus estava do outro lado da linha. Ele não se segurou e começou a rir.
-Isso é algum tipo de novo cumprimento? – ele brincou, ainda rindo
-Anda, peste. Fala logo! – reclamei
-Ana, Nath e Karol estão dando a luz!
-O que? As 3 juntas? – falei, perplexa
-Anda! Vem rápido pra cá – ele desligou
         Tive que me despedir às pressas de Terrível. O lado bom de ser sua funcionária favorita é que eu podia fazer o que eu quisesse.
         Entrei em meu carro e segui em direção à mansão. Lucas S e Matheus esperavam pela ambulância do lado de fora. Do lado de dentro, Bianca, Thaís e Rafah tentavam acalmar as 3 grávidas.
-Respira. Inspira. Respira. Inspira – dizia Thaís a Karol
-Eu tô respirando! – ela gritou
-Tem razão. Talvez eu é que deva respirar – disse Thaís, com falta de ar
         Cada uma fazia o que podia para aguentar até a chegada da ambulância. Pouco tempo depois, junto com a ambulância, chegaram Marcelo, Léo e Renato, os pais. Eles ajudaram a colocar as três na ambulância que esperava do lado de fora da mansão.
         Eu, Lucas S, Bianca, Matheus, Thaís e Rafah fomos em um carro separado.
-Estou nervosa – disse Bianca
-Mais que elas? – argumentei
-Você sabe o que estou falando – ela reclamou – E pensar que eu fiz o parto de Eric
-Eu devia ter vindo à Hollywood antes – disse Matheus
         Assim que chegamos ao hospital, encontramos um grupo de enfermeiras na recepção. Suas roupas colantes e os peitos siliconados me fizeram pensar se elas eram enfermeiras de verdade ou stripers. Não sei o que Matheus achou que elas fossem, mas agradou. Ele fingiu que torceu o pé e as tontas caíram.
-Podemos ajudar? – elas disseram
-Eu machuquei o pé. Poderiam me tratar? – ele disse
-Coitadinho... É claro que podemos – disseram em coro, como se tivessem ensaiado
         Fiquei boquiaberta coma cara-de-pau dele.
         As enfermeiras/stripers colocaram Matheus numa cadeira de rodas e foram levá-lo até uma outra sala. Um senhor que passava por mim usava uma bengala.
-Senhor, poderia me emprestar sua bengala? – pedi
-É claro – ele disse, de maneira simpática
         Peguei a bengala e coloquei na roda da cadeira de rodas, derrubando Matheus. Ele rapidamente se levantou para brigar comigo.
-Veja só! Seu pé está curado! – falei bem alto
         As enfermeiras/stripers fizeram uma expressão de surpresa – também como se tivessem ensaiado – e foram embora, ofendidas.
-Sua prima está dando a luz e você ainda consegue pensar nisso? – repreendi Matheus
-Você e Nath não me dão uma folga! – ele reclamou
         Corremos até a sala onde estavam Nath, Ana e Karol. De longe já dava para ouvir os gritos.
-O que tá acontecendo lá dentro? Briga de galinhas? – exclamei, assustada com os gritos
         Entramos na sala e lá estavam as 3, cada uma em uma cama, de mãos dadas e, é claro, gritando demais.
-Para de gritar, Karol! Tá me desconcentrando! – Ana berrou
-Você também tá gritando!  - berrou Karol
-Parem as duas! – berrou Nath
-Aaaahhhh! – todas berraram juntas
         Os 3 médicos tentavam se concentrar, mas ficava difícil com toda aquela gritaria.
-Já estou vendo a cabeça! – disseram os médicos de cada uma
         Os 3 se assustaram, assim como nós.
-Elas 3 estão dando a luz ao mesmo tempo? Como isso é possível? – exclamou Lucas S
-Isso que é amizade – brinquei
        Nós queríamos continuar ali, mas os médicos disseram que só os pais podiam ficar, então saímos. Tudo que pudemos fazer era ouvir a gritaria.
-Tem mais gritos do que em um show de rock – brincou Matheus
         Notei que Bianca e Lucas S tinham saído por um tempo. Eles voltaram com vários balões de coraçõezinhos, sóis sorridentes e alguns ursos de pelúcia.
         Percebemos que havia acabado quando a gritaria acabou. Os médicos disseram que podíamos entrar. Cada casal olhava para o seu filho. Rafah levou Eric até Nath e Marcelo.
-Diz “oi” pra sua irmãzinha, Eric – disse Nath
-Já sabem os nomes? – perguntei a elas
-Daniella – respondeu Karol
-Cecília – disse Nath
-Rafael – disse Ana
         Matheus sinalizou para que Nath o deixasse segurar Cecília.
-Não importa o que sua mãe diga, você e seu irmão serão roqueiros igual ao tio Matheus aqui – ele disse
 -Sinto uma vibração rock n’ roll aqui nasala. Rápido, Marcelo: pegue Cecília antes que atinja ela – Nath brincou
         Ana segurava Rafael com tanta delicadeza que parecia que um sopro poderia quebrá-lo. Já Karol se segurava para não abraçar e sufocar Daniella.
-Só ficaria mais perfeito se Lucas C tivesse aqui – disse Nath
-Eu sei que ele vai voltar. Não se preocupe – eu disse
         Eu sabia que ele iria voltar, só não poderia garantir se ele estaria curado.

90- Rio


PDV da mãe do Lucas C

         Fiquei preocupada com a ligação de Allanis. O que ela queria dizer com “eu estar correndo perigo”? E por que Lucas não falou no telefone?
         Voltei a fazer minhas tarefas normalmente, quando ouvi um barulho vindo do quintal. Quando fui ver o que era, dei de cara com Lucas, em uma forma monstruosa, que misturava água, ar, fogo, terra e eletricidade.
-Preciso de ajuda – ele disso, com uma assustadora voz distorcida

Fim do PDV

         Pattison nos levou para o centro do Rio de Janeiro.
-Sério? Para a central? Não podia nos deixar mais longe? – Nath disse sarcasticamente
-Eu nem sabia que existia um lugar chamado Cabuçu! Quer o quê? – ele reclamou
         Fomos de táxi até Cabuçu. Me deu uma certa nostalgia quando cheguei. Me lembrei dos momentos de nossa infância e adolescência. Fazia 7 anos que a gente esteve em Cabuçu pela última vez.
-Quantas lembranças – eu disse
-Eu sei, mas agora a prioridade é achar a mãe do Lucas – disse Lucas S, pondo a mão em meu ombro
         Chegamos na casa de Lucas C e fomos procurar pela mãe dele. Nós a achamos na cozinha, lavando a louça.
-Lucas esteve aqui? – perguntou Rafah
-Sim – ela respondeu
-E...? – disse Bianca
-Me pediu ajuda. Disse que está descontrolado, que não tem poder sobre suas ações – ela continuou
-E depois? – Thaís perguntou
-Ele... foi embora – ela disse, seriamente
         Ela deu uma pausa, olhando para o vazio. Depois, se virou para mim e disse:
-O que aconteceu com meu filho? – ela perguntou
-Nós não sabemos – respondi
-Vocês estão tentando ajudá-lo?
-Estamos tentando – eu disse, sendo o máximo sincera
-Então me faça um favor – ela disse, ainda séria – Se esforcem
         Não pude prometer nada. Àquela altura do campeonato, não tínhamos ideia do que fazer para ajudar Lucas.
         Saímos da casa e pedimos que Lucas S rastreasse Lucas C.
-Nada – ele disse
-Jéssica deve ter bloqueado-o – eu disse – Alguma ideia de onde Lucas possa ter ido? – perguntei a todos
-Bom, quando o pai de Lucas morreu... – disse Nath, juntando os pensamentos – O assassino era de uma favela perto daqui
-Você acha que ele foi para lá? – Ana perguntou
-90% de certeza – ela afirmou
         Seguimos em direção à tal favela. De certa maneira, eu estava com medo. Nunca tinha ido a uma favela antes.
         Eu já estava encharcada de suor. Devia estar uns 40º, típico de Rio de Janeiro. Uns moleques de boné e sem camisa passaram pela gente. Notei que eles tinham uma arma presa a cintura. Cada um deles. Senti um calafrio de repente.
-Você tem medo DISSO? – Lucas S sussurrou
-Não é exatamente medo. É... eles me dão arrepios na espinha – respondi
         Haviam várias barracas no meio das ruas. Cada rua tinha 4 saídas. Me perguntei como Lucas havia achado o tal cara naquele labirinto.
-Que emoção! Minha primeira vez numa favela! – disse Ana
-A primeira vez nunca se esquece – brinquei
         Enquanto andávamos, Nath parou de repente.
-Da última vez que eu vim aqui... Já sei onde podemos ir! – ela exclamou
         Ela nos guiou até a parte mais alta do morro. Alguns garotos mal-encarados passaram de moto pela gente. Às vezes me dava vontade de socá-los. Era realmente necessário olhar para a gente de cara feia?
         Continuamos seguindo até chegar a um depósito que parecia abandonado.
-Aqui – disse Nath
-Certeza? – perguntei
-Absoluta – ela confirmou
         Subi por uma pilastra e olhei pela janela. Lá dentro haviam uns caras, não tinham mais de 25. Todos traficantes ou viciados. Enquanto espiava, senti uma brisa fria passar por mim. Incomodada, desci.
-É o lugar certo – confirmei – Alguém mais está sentindo frio?
-Frio? Estamos em pleno Rio de Janeiro! – exclamou Lucas S
-Ah, não. Ele já está lá dentro – exclamei
         Subi novamente pela pilastra e olhei para dentro do depósito. Lucas C se prendia ao teto, em sua forma de água. Ele piscou para me provocar. Desci para avisar ao pessoal.
-Ele está lá dentro – avisei
-Qual o plano? – perguntou Matheus
-Simples – disse Lucas S
         Ele arrancou a pilastra e a usou para arrombar a entrada do galpão. De início, pensei em repreendê-lo, mas sua ideia acabou sendo muito boa. Não tínhamos tempo para ficar pensando em planos mirabolantes.
         No exato momento em que entramos, Lucas C desceu do teto e amarrou um dos traficantes/viciados com seu corpo d’água.
-Um movimento brusco e eu eletrifico meu corpo. Ele vai torrar – avisou Lucas C
-Lucas, não faça isso
-Quem você acha que é para me dizer o que fazer? Essa raça maldita matou meu pai. Essa mesma raça maldita deve entrar em extinção – ele exclamou
         Mais alguns caras chegaram ao galpão, querendo saber do que se tratava. Talvez a ideia de Lucas S não tenha sido tão boa assim.
-Oba! Mais! – Lucas C disse
         Ele criou tentáculos d’água e puxou os outros traficantes/viciados. Depois, criou uma cúpula elétrica ao redor deles, prendendo-os.
-Lucas, me ouça – eu disse
-Não, você me ouça – ele interrompeu – É por causa deles que meu pai está em um cemitério, enterrado. Depois que eu acabar, não vai sobrar nada deles para ser enterrado
         A carga elétrica na cúpula ficou cada vez mais forte. Mesmo assustada, arrisquei me aproximar.
-Allanis, vamos! – disse Pattison
-Espera – falei calmamente, me aproximando de Lucas C – Não faça isso – disse a ele
-Me desculpa – ele disse
         A carga elétrica na cúpula foi ficando mais forte ainda. Pattison me pegou pelo braço e me tirou à força dali. Me levou para longe, junto do pessoal. De onde estávamos, pudemos ver o galpão explodindo.
-Ele... os matou – falei, perplexa – E ia me matar
         Fiquei parada como uma estátua. Estava – como diriam os especialistas – em estado de choque. Nunca havia imaginado que ele pudesse matar alguém. Agora já não tinha mais dúvidas.

89- Lobo em Pele de Ovelha


         Eu estava na cozinha, lavando a louça e dançando ao som de “On The Floor”.
-Lalala! – cantei gritando
-Nossa! Quanta empolgação! – disse Pattison – Imaginei que estivesse deprimida ou coisa assim
-Estava. Depois que Lucas C virou nosso inimigo, a depressão... sumiu de repente! É como se a minha vontade de curá-lo também tivesse me curado
-Sério? Então por que algo me diz que você não está bem? – ele disse
-Eu ainda não aceito o fato de que não conseguimos curá-lo! – argumentei
-E se eu te dissesse que podemos curá-lo? – sugeriu Pattison
         Olhei para ele tentando entender o que ele queria dizer e foi aí que me toquei.
-Caribe, aí vamos nós! – eu disse, com um sorriso no rosto
         Avisei a todos. Arrumamos as malas rapidamente. Estávamos desesperados para achar uma cura para Lucas C. E quem mais poderia fazer isso? Jéssica!
-Ah, Caribe! O paraíso tropical! – exclamou Thaís, assim que chegamos
-Ah, Caribe! O lugar onde vou te matar afogada! – eu disse ironicamente
-Viemos a trabalho – disse Lucas S
-Seus estraga-prazeres! – Thaís resmungou
-Quando você tentar me matar, a gente deixa você mergulhar na água – disse Rafah, empurrando Thaís
         Nos hospedamos em um hotel que havia ali perto. O mesmo hotel em que Jack Williams e Jéssica estavam hospedados. Quando eu e Pattison entramos em nosso quarto, demos de cara com Chrono. Da última vez que o vimos, ele apareceu no aniversário de 1 ano de Jen.
-Chrono! Quanto tempo! – eu disse, dando um aperto de mão nele
-Jura? Eu vi vocês ontem – ele disse, fazendo com que ficássemos confusos – Me desculpa. Essas regras de tempo-espaço são muito confusas
-O que faz aqui? – Pattison perguntou
-Vim dar um aviso: fiquem atentos. E não se preocupem tanto, pois as coisas tendem a ficar piores antes de melhorar – ele disse, colocando a mão em nossos ombros
         Depois de termos aquela conversa estranha, Chrono simplesmente sumiu, como da última vez que vimos ele. Mas uma pergunta ficou no ar: o que ele queria dizer com aquele papo de ficar atento e das coisas piorarem antes de melhorar?
         Tentamos deixar aquele momento estranho de lado e fomos procurar por Jéssica.
         Disfarçada de secretária, Ana foi até a recepção e descobriu que Jack e Jéssica estavam no quarto 314.
-Serviço de quarto – disse Bianca, batendo na porta do quarto 314
         Jack abriu a porta, mas fechou rapidamente ao ver que éramos nós.
-Vão embora! – ele disse, do outro lado da porta
         Matheus encostou na porta e a pulverizou.
-Parece que deixaram a porta aberta. Podemos entrar? – ele disse, de maneira sonsa
         De todos nós, definitivamente, Matheus era quem mais irritava Jack.
         Entramos no quarto, mesmo contra a vontade de Jack. Começamos a procurar por Jéssica. Ela era o principal motivo de nossa viagem.
-Cadê a Jéssica? – Lucas S perguntou
-Não está – Jack respondeu
-Estou sim – ouvimos Jéssica dizer
-Jéssica! Mandei você ficar lá dentro! – Jack brigou com ela
         Mesmo com seu pai mandando ela ficar lá, Jéssica o desobedeceu e veio com a gente.
-O que traz vocês aqui? – ela perguntou, enquanto andávamos pelo hotel
-Bom, precisamos de sua ajuda – Nath respondeu
-Com o que? – disse Jéssica
         Explicamos tudo a ela: dissemos que Lucas C estava fora de controle e que precisávamos de sua ajuda para curar Lucas.
-Você acha que consegue? – Julie perguntou preocupada
-Talvez – Jéssica respondeu
         Fomos para a praia e continuamos a conversa. Enquanto estávamos na praia, sentimos um tremor no chão. De início, ignoramos. Depois, nos preocupamos, pois tremores mais fortes vieram. De repente, um buraco se abriu atrás Thaís e Lucas C saiu de dentro do buraco, atacando-a.
-Thaís! – gritei, preocupada
         Lancei uma pedra contra ele, mas ele se protegeu com um escudo semelhante ao de Bianca.
-Droga! – exclamei
         Dei sinal verde para Jéssica curá-lo. Ela foi até ele para fazer o que pedimos.
-Se acalme, Lucas. Vim aqui para te ajudar – ela disse
-Me ajudar? Quanta hipocrisia! Isso tudo começou por sua causa pra começo de conversa – ele disse
         Naquele momento, todos do pessoal, sem exceção, fuzilaram Jéssica com o olhar.
-Não sei do que você está falando – disse Jéssica
-Me deixe refrescar sua memória – disse Lucas, disparando lâminas na direção de Jéssica
         Matheus entrou na frente dela e pulverizou as lâminas.
-Obrigada por me salvar – ela disse
-Só fiz isso pra te matar com as minhas próprias mãos – ele disse seriamente
         Por mais que eu detestasse admitir, eu pensava o mesmo que Matheus.
         Depois que Jéssica foi salva por Matheus, Lucas C se transformou em água e sumiu no oceano. Enquanto isso, levávamos Jéssica para um canto isolado da praia, onde pudéssemos questioná-la.
-O que ele quis dizer com “você começou tudo”? – Nath perguntou
-Eu não sei – Jéssica respondeu
         Julie criou um chicote ao redor do pescoço de Jéssica, enforcando-a.
-Conta agora ou eu decapito você – ela disse de maneira agressiva
-Tá legal, eu conto! – Jéssica disse assustada
         Mesmo com Jéssica concordando em nos dizer tudo, Julie apenas afrouxou os chicotes, mas não os soltou.
-Eu não posso só neutralizar poderes, como também posso alterá-los. Foi isso que fiz com Lucas – ela explicou
-E por que não consigo rastrear seus pensamentos? – Lucas S perguntou
-Por que eu os bloqueei, para que vocês não achassem ele – ela disse
-Desbloqueia agora – disse Ana, torcendo o braço de Jéssica
-Ah! – ela gritou de dor – Tá legal, tá legal
         Nunca vi Ana tão nervosa. Mas, naquela ocasião, até fiquei surpresa quando Julie não decapitou Jéssica.
         Quando Jéssica desbloqueou Lucas C, Lucas S começou a rastreá-lo.
-Oh-oh! – disse Lucas S – Ele está indo para o Brasil. Especificamente, para Cabuçu.
         Cabuçu era o bairro onde passamos a maior parte de nossas infâncias. E também onde a mãe de Lucas C mora. Será que ele seria capaz de atacá-la?
-Temos que ir. Agora! – eu disse
         Pattison iria nos levar, mas tivemos que deixar Jéssica no Caribe, pois seu poder não deixava Pattison levá-la. Assim que chegamos, liguei para a mãe de Lucas C.
-Fique atenta! A senhora pode estar correndo perigo! – alertei

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

88- Entrevista com a Terrível


Algumas semanas depois...

         Coloquei minha melhor roupa social. Era o grande dia!
         É o seguinte: já faz 3 anos que faço curso de turismo e recentemente me formei. Às vezes, vocês devem pensar “A Allanis não faz nada da vida não?”. Bom, a partir desse dia, comecei a fazer.
         A entrevista seria apenas às 10:00, mas acordei às 06:30 de tanto nervoso. Fiquei andando em círculos pela cozinha, segurando minha xícara de café.
-O que você tá fazendo acordada tão cedo? – disse Ana
-Perdi o sono. Estou muito – respondi
         Ana já estava com uma barriga visível de 7 meses. Apesar de não querer admitir, ela ficou triste quando Julie recebeu alta e pegou Jen de volta.
-Alguma dica? – perguntei, me referindo à entrevista
-Faça o que fizer, não demonstre nervosismo. Mostre que é confiante – ela aconselhou
         Apenas balancei a cabeça. “Não demonstre nervosismo”. Tinha algum conselho pior?
         Bianca já estava a caminho do trabalho quando eu ia para a entrevista, então ela me deu uma carona. Durante todo o caminho eu fiquei sacudindo a perna, coisa que só faço quando estou muito nervosa.
-Pronta? – ela disse, ao chegarmos
-Não – falei, quase chorando de tanto nervosismo
-Você consegue. Boa sorte – ela se despediu
         O destino da minha viagem era a “S. Tourism”, empresa de turismo na qual eu pretendia trabalhar. Assim que entrei, falei com a secretária que iria ser entrevistada e ela me mandou para a sala de espera. Devia haver umas 20 pessoas na minha frente.
-Eu não acredito que vou ser entrevistada pela Terrível! – uma delas disse
-Não quero fazer feio na hora da entrevista, - comecei – qual o nome dela?
-Terrível – todas disseram
-Tá, eu sei que ela é malvada, mas sério, qual o nome dela? – perguntei
-Terrível – repetiram
-O nome dela é Terrível? – perguntei
-Nome, não. Apelido. Já deve se imaginar o porquê – um cara disse
         Gelei quando disseram isso.
         A secretária chamou uma das mulheres que estava esperando. Não demorou muito para que ela saísse da sala chorando. O mesmo aconteceu com a segunda. E a terceira. E o resto.
         Além de mim, só havia sobrado mais duas pessoas: um cara e uma garota.
-Allanis, é a sua vez – informou a secretária
         Engoli em seco. Respirei fundo – para garantir que não desmaiaria – e entrei na sala.
-Bom dia – eu disse ao entrar
-Bom dia é o cacete, não estou com tempo para isso – disse Terrível – Agiliza: por que você acha que deve entrar para a “S. Tourism”?
-É... – pensei no que dizer
-É, é, é... É o quê? Se for lerda assim para trabalhar, é melhor ir embora
-Não, eu não sou lerda. Me formei com as melhores notas da turma e se vim para cá é porque eu sou boa no que faço – respondi rapidamente
         Ela pareceu surpresa com minha resposta. Se eu fosse chutar, diria que ela poderia estar orgulhosa.
-Graças a Deus!  De todos os 20 que passaram por aqui, você foi a melhor – ela disse – Mas se você se diz tão boa no que faz, precisa provar
-Como assim?
-Há um grupo de turistas esperando. Comece seu trabalho
-Como é? Eu nem me preparei! – argumentei
-Você tem a vaga. Quer mesmo perdê-la?
         Dei um suspiro, como alguém que perde uma discussão e fiz um “não” com a cabeça.
-Ótimo! Agora vá! – ela respondeu
         Saí da sala e, apesar de me sentir um tanto derrotada, senti vontade de gritar de felicidade por ter me saído bem na entrevista.
         Havia realmente um grupo de turistas esperando. Me apresentei e os levei para conhecer os pontos turísticos da cidade. Eu conhecia Hollywood como a palma da minha mão – óbvio, porque eu moro em Hollywood – então foi fácil de improvisar.
         No final do dia, todos os clientes me elogiaram. Disseram que eu era muito carismática e inteligente.
-Viu? Eu fiz tudo direitinho – eu disse ao chegar – Te impressionei?
-Ainda não. A impressora está ruim e preciso que conserte – disse Terrível
-Como? Eu não sei consertar impressoras – argumentei
-Uma boa funcionária precisa ter 1.001 utilidades – ela disse – Estou indo. Amanhã quero a impressora consertada.
         Ela foi embora e me deixou sozinha para consertar a impressora. Liguei para Rafah e pedi para ela me ajudar.
-Não dá para consertar – disse Rafah
-Como não dá? – minha pergunta mostrava meu desespero
-Tem água aqui dentro
-Água??
         Foi aí que liguei tudo.
-Vamos para casa, Rafah – eu disse
-O que você vai fazer com essa impressora? – ela perguntou
-Nada – respondi
         Eu e ela voltamos para a mansão para descansar.
         No outro dia, fui toda orgulhosa para meu 2º dia de trabalho – que poderia ter sido o último. Assim que cheguei, a secretária disse que Terrível queria falar comigo.
-Eu te pedi para consertar a impressora, lembra? – ela disse, seriamente
-É claro que lembro – respondi igualmente séria
         Terrível não devia ser muito mais velha que eu. Tenho 23 e ela devia ter uns 28. Ainda assim, seu jeito sério fazia parecer que eu estava conversando com a minha mãe.
-Por que não fez o que mandei? – ela perguntou
-Tinha água na impressora. Água que você colocou. Foi você que a estragou – respondi
-Mas eu mandei você consertar
-Eu não vim aqui para ser técnica de informática
-Então vá embora
-Eu vou então – falei seriamente
         Me levantei da cadeira e quando cheguei à porta, Terrível me interrompeu.
-Não precisa ir se não quiser – ela anunciou
-Sério? – perguntei, perplexa
-Sabe por que aquela saiu chorando ontem? Porque ela era uma inútil. E eu disse isso a ela. Eu não sou uma megera, só sou sincera. Você é a melhor funcionária que eu tive em 7 anos de carreira. E ganhou meu respeito, pois provou que é brava o suficiente para encarar a chefe. Pode continuar – ela disse
-Me deixa te abraçar? – perguntei
-Não rela a mão. Sou sua chefe ainda
         Apesar disso, eu continuava feliz.
-Obrigada – eu disse
-Não precisa agradecer por ser qualificada. E ande logo, tem muito trabalho a fazer – ela deu o primeiro sorriso do dia
         Meus primeiros dias de trabalho e já foram perfeitos!

Créditos a Allanis, que mesmo sem querer me ajuda a criar mais e mais capítulos. Título em homenamgem ao seu filme favorito "Entrevista com o Vampiro"

87- Adivinha Quem Vem Para o Jantar!


PDV da Karol

         Era um sábado ensolarado, ótimo dia para fazer compras. Saí com Nath, Ana e Allanis para comprar coisas para o bebê. Allanis foi junto para ajudar com as compras.
-Como você tá, Nath? – perguntei
-O doutor disse que o bebê está bem, mas ainda estou com um pouco com dor de cabeça por causa do ataque – ela disse
         Ana, Nath e Bianca ainda se recuperavam do ataque de Lucas C. Como não tenho poderes, não fui atacada. Ser normal também tem suas vantagens.
         Continuamos andando pela loja. Comprei um pequeno macacão rosa. O abracei, imaginando como seria cuidar da minha filha.
-Ansiosa pra ser mamãe? – brincou Allanis
-Um pouco – respondi
         De repente, ouvi alguém gritando “Karol!”. Suas vozes estavam um pouco diferentes, mas eu me lembrava perfeitamente. Joguei o macacão no meio das roupas e cobri a barriga com a cestinha de roupas.
-Samuel! Karynne!  - fingi felicidade
         É o seguinte: Samuel e Karynne são meus irmãos mais novos. Eu até que estava feliz em revê-los, mas precisava ser JUSTAMENTE naquela hora?
-Karolzinha, quanto tempo – disse Karynne, me chamando pelo meu apelido
-Nem pensei que fosse encontrar vocês – verdade!
-Tem mais alguém querendo falar com você – disse Samuel
-Mais alguém? Como assim mais alguém? – agora eu já estava um pouco desesperada
         Que não seja o papai e a mamãe. Que não seja o papai e a mamãe – pensei.
-Papai! Mamãe! – agora a felicidade realmente era fingida
-Vem cá, me dá um abraço! – disse minha mãe
         Eu a abracei, mas ainda segurando a cestinha.
-Larga essa cesta pra eu te abraçar direito! – ela disse
-Tá legal... – obedeci, desanimada
         Nós nos abraçamos e ela logo percebeu a minha barriga. Agora ela ficou séria.
-Me diz que isso é gordura – ela disse
-É gordura – respondi
-Sério?
-Não – finalmente disse
-Como assim? – perguntou meu pai
-Pai... – dei uma pausa, pensando nas palavras certas – Estou grávida
         Ele parou, pensou por um momento, analisou toda a situação e disse:
-COMO É QUE É?! – ele berrou, no meio da loja – Eu devo estar surdo. Você disse “grávida”?
-Sim – respondi baixinho
-Quem foi o desgraçado? – berrou novamente
-Não fala assim do Léo! – devolvi
         Logo percebi a besteira que tinha feito.
-Léo de quê? – ele perguntou
-Léo-ãozinho. É o nome do meu xau-xau de estimação – menti
         Ele desistiu de brigar, mas eu sabia que ele não tinha caído nessa de “Léoãzinho”. Só estava esperando a hora certa para voltar a discutir.
         Nós os levamos para a mansão. Haviam alguns quartos de sobra desde a saída de Kel, Kah, Jose e a morte de Manu. Meus pais se hospedaram nesses quartos vazios.
-“Léoãzinho”? – indagou Allanis
-Eu não consegui pensar em nada – respondi
-Estou vendo – ela brincou
         Na hora do jantar, todos sentamos à mesa – incluindo meus pais e meus irmãos. Todos ficaram em silêncio, sem saber o que falar – o que era bem raro.
       De repente, a campainha tocou. Matheus foi rapidamente atendê-la. Provavelmente, incomodado pelo silêncio na sala de jantar. Para falar a verdade, até eu estava incomodada com aquele silêncio.
-Karol, é o Léo! – disse Matheus
         Rapidamente, meu pai se levantou e foi falar com Léo.
-Matheus, seu corno! – berrei
-O que foi? – ele disse, sem entender
-O pai dela sabe que Léo é o pai. E não está nada feliz – explicou Allanis
-Ah... – disse Matheus – Mas eu não sou adivinho, né?
         Corri atrás de meu pai para impedir que ele fizesse alguma besteira.
-Rápido, Bianca! Cria uma barreira entre eles! – pedi
-Sra. Inteligência Rara, esqueceu que o Lucas C roubou meus poderes? – ela rebateu
-Droga! – exclamei
         Entrei na frente de Léo para protegê-lo do meu pai.
-Então é você que engravidou a Karol? – disse meu pai
-E quem é você? – Léo perguntou
-O pai dela
         Meu pai tentou socá-lo, passando o punho ao lado de minha cabeça. Léo tentou revidar. Será que eles não perceberam que havia uma grávida entre eles?
         De repente, uma geladeira apareceu e separou eu e Léo de meu pai.
-Eu posso fazer as coisas sumirem e desaparecerem – explicou Matheus – Daria um ótimo mágico!
-Essa é a geladeira que sumiu há 2 meses atrás, quando você chegou? Por que não trouxe ela antes?? – exclamou Allanis
-Nenhum momento parecia conveniente – ele disse
         O momento de distração acabou quando vi meu pai saindo pela janela.
-Corre, Léo, corre! – gritei
-Quem é o seu pai? O Jason? – ele exclamou
         Ele saiu correndo em volta da mansão e meu pai correu atrás dele.
         Para a sorte de Léo, meu pai – já com seus 50 anos – não corria tanto e acabou se cansando no meio do caminho.
         Enquanto meu pai descansava, Léo veio até mim, dizendo que tinha algo importante a dizer:
-O que é? – perguntei
-Eu não sei exatamente como começar... – ele disse
-O que é? O que é? – perguntei, ansiosa
         Quando ele ia dizer, meu pai veio e o jogou no chão. Meu pai se sentou em suas costas para impedir que ele se levantasse. Então, Léo resolveu dizer no chão mesmo:
-Karoline Siqueira – pausa para retomar o fôlego – Quer se casar comigo?
-Claro! – respondi radiante
         Tentei me abaixar para beijá-lo, mas não consegui.
-Esquece, não consigo me abaixar – disse – Pai, se levanta para eu poder beijar o Léo
         Meu pai obedeceu e deixou que eu beijasse Léo.
-Pai, você tá chorando? – perguntei, rindo
-Um cisco caiu no meu olho – ele desconversou
         No fim, meus pais aprovaram o casamento – e a gravidez. Eles voltaram ao Brasil, prometendo voltar para o meu casamento. Agora estou grávida e noiva!

Fim do PDV da Karol

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

86- Recepção Nada Calorosa


         Eram 05:30 da manhã e eu continuava deitada no peito de Pattison. Gostava de ouvir as batidas de seu coração. Elas eram como uma canção de ninar para mim.
         Vi que meu celular piscava. Eu havia perdido outra ligação de Bianca. Me estiquei para pegá-lo, mas acabei acordando Pattison.
-Ah, não, Allanis – resmungou Pattison – Eu te falei para se desligar do mundo
-São 05:30 da manhã. Eu conheço Bianca e sei que ela só ligaria a essa hora se fosse algo importante
         Ele me encarou e eu devolvi uma careta vesga para zombar dele.
-O que eu não faço por você? – ele resmungou
-Valeu, Patt – dei um beijo em seu rosto
         Arrumamos as malas rapidamente e saímos do hotel antes que qualquer outra pessoa acordasse. Depois, Patt usou seu dom para nos levar até a mansão.
         Corri em direção à porta, animada para encontrar o pessoal.
-Oi, pessoal! Cheguei! – eu disse, ao passar pela porta
         Mas, para a minha surpresa, não havia ninguém na mansão. E, além de estar deserta, também estava completamente bagunçada: o sofá estava virado, as revistas da estante estavam espalhadas pelo chão e algumas panelas estavam jogadas pela cozinha.
         Pouco tempo depois, Lucas S surgiu, vindo do 2º andar.
-O que aconteceu aqui? – ele perguntou
-É o que estamos tentando saber – respondi – Onde estão as garotas?
-Eu não sei. Cheguei aqui e não tinha ninguém – ele disse
-Perdi algumas ligações de Bianca. Será que ela está em apuros? – perguntei, mais para mim mesma do que para Lucas
         Parei para pensar em um plano. Nada de útil me vinha à cabeça até que tive uma ideia:
-Por que não tenta rastreá-las? – perguntei ao Lucas
-Boa ideia! – ele estalou os dedos
         Pensei que demoraria a rastreá-las, mas acabou sendo mais rápido do que eu imaginava. Segundos, para falar a verdade.
-Elas já estão a caminho da mansão – ele respondeu
         Eu, Lucas e Pattison ficamos esperando por elas na porta da mansão. Não demorou muito para que avistássemos o carro de Bianca, que aliás estava num estado terrível.
         De dentro do carro saíram Karol, Thaís, Bianca, Nath e Ana. Todas estavam com uma aparência péssima. Roupas rasgadas, expressão de cansaço, descabeladas... Tudo que você puder imaginar. Tudo mesmo. Nath até estava descalça.
-Meu Deus! – exclamei
         Corri até elas para ver se estavam bem.
-O que aconteceu com vocês? – perguntei, preocupada
-Lucas Costa. Te lembra alguma coisa? – Bianca respondeu, deixando visível sua irritação
-Lucas? Ele voltou? – eu disse
-Acho que nosso estado deixou isso óbvio – Nath rebateu
         Elas entraram na mansão e sentaram-se à mesa. Pareciam exaustas. Imagine como você ficaria se corresse 50km. Elas estavam assim.
         Apesar de todas estarem horríveis, Karol estava menos. Bianca, Ana, Nath e Thaís estavam bem piores. Estavam pálidas como zumbis, estavam com olheiras, suas vozes estavam roucas e falavam lentamente.
-O que houve com vocês? – perguntei, mais especificamente a elas 4
-Adivinha: Lucas roubou nossos poderes – disse Thaís
-Como assim? Eu não sabia que ele podia fazer isso – eu disse
-Nós também não – Ana sacudiu as mãos, com bastante esforço
-Vocês precisam ir ao médico. Precisam ver o estado de seus filhos – falei com Ana e Nath
-Eu levo elas – disse Karol
         E então, elas saíram novamente, me deixando a sós com Lucas S, Patt e Thaís.
-Talvez ele realmente seja “do mal” – fiz as aspas com os dedos
-Ou talvez não – disse Thaís – Descobrimos algo importante enquanto fugíamos dele
-O quê? – Lucas S perguntou
-Ele tem dupla personalidade – ela respondeu
-Mas ele nunca mostrou isso antes – argumentei
-É porque só apareceu agora. Alguma coisa despertou essa outra personalidade. Precisamos descobrir o que exatamente que causou isso – ela disse
         Com a ajuda de Lucas S, coloquei o sofá de volta na posição correta. Depois, fomos para a cozinha arrumar a bagunça.
         Enquanto arrumava, me lembrei de quando estudava com Lucas C. Ele sempre foi tão calmo... Às vezes, Nath implicava com ele e ele nem ligava. Era difícil imaginar que ele seria capaz de fazer uma coisa dessas.
-É, concordo – disse Lucas S
-Você estava lendo meus pensamentos? – perguntei
-E que importância isso faz?
         Concordei com ele.
         Me sentei à mesa e dei um longo suspiro.
         Enquanto revirava os pensamentos, me lembrei de uma história que Nath havia me contado sobre Lucas C: quando ele soube da morte de seu pai, ele torturou o assassino e o assistiu morrer lentamente. Seria possível que desde aquela época ele já tinha esse problema?
         Tentei afastar qualquer pensamento desse tipo. É nessas horas que a dúvida se instala e o melhor a se fazer é expulsá-la.
         Levou algumas horas para acabar a faxina, mas conseguimos.
         Quando ia me sentar e descansar, o meu celular tocou. Era Karol:
-Boa notícia: os bebês estão bem – ela disse
-Ótima notícia – eu a corrigi, logo depois de soltar outro suspiro
         Passei a mão nos cabelos e encostei a cabeça na mesa. A hora de “me desligar do mundo acabou”. Agora era a hora de lutar. Pelo bem do nosso amigo.

85- Distúrbio

PDV da Bianca

         Meu celular despertou. Eu ainda estava com um pouco de sono, mas já eram 10:00 da manhã e eu tinha que levantar. Era meu dia de folga e Dean estava trabalhando. Como não queria tomar café sozinha, passei na mansão.
-Bom dia, pessoal – eu disse, cansada
-Bom dia – elas responderam
         Todos estavam tão sonolentos quanto eu. Percebi que estava faltando a maior parte do pessoal como Allanis, Lucas S, Matheus e Rafah.
-Onde está o pessoal? – perguntei
-Trabalhando, viajando... – respondeu Nath
-Tenho quase certeza de que Allanis está fazendo outra coisa – brincou Ana
         Na casa, só estavam eu, Thaís, Nath, Ana e Karol. Ficamos vendo uns filmes melosos como “Eu Odeio Dia dos Namorados” e “O Amor Acontece”. Era bom ter o controle da mansão. Sem todo aquele pessoal, a mansão ficava silenciosa.
         Depois que acabamos de assistir uns 7 filmes, fomos todas dormir. Caí na cama e apaguei.
         Enquanto dormia, ouvia uma voz estranha e assustadora chamando pelo meu nome. Depois, senti um frio enorme em meus pés. Quando tentei me mexer para cobrir meus pés, percebi que havia sido imobilizada. Não conseguia mexer nada dos joelhos para baixo. Estavam congelados.
-Não tem graça, garotas! – reclamei
-Não foram elas – ouvi a horripilante voz de meus sonhos dizer. A voz era de Lucas C
-O que você está fazendo aqui? E por que me congelou? – perguntei
-Vim te torturar. Te congelei porque queria ver suas pernas necrosando com o frio. Ah, vai ser divertido! – ele disse, com sua voz medonha
         De repente, a porta se abriu e... Lady Gaga entrou no meu quarto.
-Lady Gaga? – perguntei, incrédula
         Ela pegou uma seringa e injetou um líquido verde no braço de Lucas. Ele caiu feito uma pedra, causando um estrondo.
-Lady Gaga, minha heroína! – exclamei
-Não sou a Lady Gaga – ela disse
         E então, seu corpo se transformou e ela revelou ser Ana.
-Quando entrei na puberdade, minha mãe disse que meu corpo mudaria. Por que não virei a Beyoncé? – brinquei
         Nath veio e lançou lâminas no gelo, para soltar as minhas pernas.
-Rápido, antes que ele acorde! – disse Karol
-O que era aquele líquido verde? – perguntei
-Sonífero. Antes de viajar, Allanis deixou alguns só por precaução – disse Thaís
         Elas me tiraram do quarto e me botaram num carro.
-Pra onde estamos indo? – perguntei
-Qualquer lugar longe daqui – disse Nath
         Fomos para bem longe. Aliás, saímos do estado. Fomos até uma cidadezinha que, aliás, era uma cidade fantasma. Era 01:30 da madrugada. Não tinha eletricidade no local, o que deixava a cidade numa horripilante escuridão.
         Entramos em uma biblioteca abandonada que havia ali perto. O lugar me dava arrepios. Parecia cenário de filme de terror.
         Nath e Karol acenderam algumas velas e nós fomos até a seção “Psicologia”, para procurar livros que pudessem nos dizer qual era o problema de Lucas C. Depois de ler muito, nós chegamos a uma resposta.
-Dupla personalidade – nós dissemos todas juntas
-Quando ele atacou Julie naquele dia, ele parecia ter se arrependido – eu disse
-E parecia se lembrar da gente quando Allanis falou com ele – disse Thaís
-A gente precisa avisar ao pessoal – disse Karol
         Peguei meu celular pra ligar para Lucas S, só que não havia nenhum sinal. De repente, soprou um vento gelado e nossas velas se apagaram, nos deixando em plena escuridão.
-Quem esqueceu de pagar a conta de luz? – brincou Ana
-Me desculpa, eu pago da próxima vez – ouvi a horripilante voz de Lucas C dizer
         Ele estava atrás de mim. Percebi pela proximidade da voz. Criei um escudo ao redor do corpo de cada uma de nós.
-Pronto. Estamos seguras – eu disse
-Você sim. Elas? Nem tanto – disse Lucas C
         Ele revelou que tinha clones seus no escudo de cada uma das garotas.
-Como você fez isso? – perguntei, assustada
-Me transformei em vento e as cerquei. Seus escudos separaram minhas moléculas, permitindo que eu criasse clones. Resumindo: você me ajudou – ele disse, dando uma risada maquiavélica
         Eu achava sua voz assustadora, mas sua risada superava.
         Uma imensa raiva me controlou no momento. Liberei os escudos e lancei várias plataformas contra os clones, que sumiram. Mas o original também havia desaparecido. Me dei conta de que ele estava atrás de mim.
-Muito obrigado. Sua burrice me ajudou muito – ele disse, com ironia
         Ele me tocou e uma dor imensa atravessou meu corpo. Nunca tinha sentido nada assim. Ele estava... sugando meus poderes.
         Assim que acabou, ele me jogou no chão. Criei um escudo para me proteger, mas quando Lucas encostou seu dedo, o escudo se desmanchou feito água.
-Não entendo. Meus escudos sempre foram fortes feito aço – eu disse, confusa
-Não são mais. Mas os meus... – disse Lucas C
         Então, ele lançou uma plataforma contra mim. Fui lançada contra a parede com força imensa. Devo ter quebrado algumas costelas.
-Sai de perto dela! – disse Ana, indo usar o sonífero
-Não caio no mesmo truque duas vezes – ele disse
         Rapidamente, ele arrancou o sonífero da mão de Ana e injetou nela, que caiu no chão, desmaiada. Ele fez o mesmo com Karol.
         Thaís tentou atacá-lo com uma rajada de vento, ma não adiantou.
-Sério? Uma rajada de vento? Contra MIM? – ele disse, socando-a de maneira surpreendentemente forte
         Nath lançou lâminas contra ele, que se defendeu com um escudo. Seu escudo era tão forte que as lâminas de Nath se desfizeram feito vidro.
-Como é divertido ver a burrice de vocês – ele disse, rindo
         Antes de tudo, ele se aproximou de Ana, que estava no chão, e sugou seus poderes. Fez o mesmo com Nath. Depois, se transformou em vento e foi embora.
-Ele está muito forte. E perigoso – disse Thaís
-Não é o Lucas que conheço – disse Nath
-Acho que nós nunca mais vamos ver esse Lucas – eu disse
Fim do PDV da Bianca

84- As Férias da Minha Vida


         Mais uma vez, eu e Lucas S trabalhávamos para achar Lucas C. Por algum motivo que não sabíamos, era impossível rastreá-lo.
-Nada ainda? – perguntei
-Nada – ele confirmou
-Já faz 2 semanas que estamos tentando e não temos resultado! – reclamei
-Algo o bloqueia – ele disse
-Me diz algo que eu não sei – rebati
         Sentei no sofá e suspirei. Algo estava diferente. Eu estava mais ansiosa agora do que quando enfrentava Al. Talvez porque agora eu lidava com um amigo. A situação era mais séria. Mas alguém não entendia isso.
-Está na hora de dar um basta! – disse Pattison, socando a mesa
-O que? Como assim? – perguntei
-Você anda muito pra baixo esses dias. Vamos fazer uma viagem! – ele disse
-Viagem?? – disse Matheus
-Só eu e Allanis – Pattison rebateu, para desgosto de Matheus
         Pattison me levou para fazer as malas, mas fez questão de manter segredo quanto ao destino da viagem. Por um momento, meio que me desliguei dos pensamentos sobre Lucas C. Talvez Pattison tivesse razão: essa viagem poderia me fazer bem.
-Deixei soníferos na geladeira em caso de emergência – avisei antes de ir
-Vá a um restaurante – devolvi
         Se eu e Pattison fôssemos um casal normal, iríamos ao aeroporto. Como não somos, Pattison me levou diretamente ao destino: um lugar ensolarado, uma praia, para ser mais exata, cheia de gente.
-Bem-vinda ao México! – ele disse
-Ainda bem que eu não trouxe patins de gelo – brinquei
         Ele me levou até um hotel ali perto. Para a minha surpresa, Pattison já havia feito a reserva.
         Patt me guiou até um quarto, de número 23. Lá havia uma grande cama redonda, com espelho em cima.
-Oba! Agora posso ver como fico quando durmo – brinquei
-Na verdade, não é exatamente para isso – ele disse
         Dei um sorriso.
         Colocamos nossa roupa de banho e fomos para a praia. Perto da praia, havia um carro com o alto falante tocando “Beautiful Liar”, da Beyoncé com a Shakira. Apesar de ser um pouco velha, o ritmo latino combinava perfeitamente.
         Assim que avistei o mar disparei para pular na água. Apesar de ter uma piscina na mansão, eu preferia a praia. Há uma grande diferença entre as duas. Nem todas são boas, mas o que importa é se divertir.
         Se não me engano, passamos mais de 5 horas na praia.
-Vamos voltar para o hotel? – perguntou Pattison
-Ah, não – resmunguei – Aqui tá divertido
-Eu não paguei caro por uma cama com espelho à toa – ele rebateu
-Credo! Tá cedo ainda! – exclamei – Seu pervertido!
-Então eu vou sozinho para lá – ele disse
         Levantei a sobrancelha.
-Ver TV! – ele disse – Sua pervertida!
         Enquanto ele ia para o hotel “ver TV” – tenho minhas dúvidas – eu ia até um quiosque que ficava em frente à praia para tomar uma água de coco.
         Entrei na fila para ser atendida e uma garota furou a fila.
-Me desculpa, mas eu estava na frente – eu disse
-Ah, tá. Que bom pra você – ela respondeu grosseiramente
-Só isso? Eu estava na sua frente. Vai continuar?
-Vou
-Então é assim?
-É – ela respondeu
         Dei um empurrão nela que devolveu. Depois, dei um leve tapa em sua cabeça e ela devolveu com um tapa mais forte. Irritada, puxei seu cabelo e ela fez o mesmo. Caímos no chão e saímos rolando pela areia.
-Calma, calma – ela disse
-Calma o quê? – perguntei
-Olha para lá – ela apontou para a direita
         E lá estavam vários câmeras.
-Surpresa! É uma pegadinha! Mande um “oi” para a TV – ela disse
-Oi – eu disse, envergonhada
         Voltei para o hotel, morrendo de vergonha. Me dirigi ao quarto 23, onde Pattison me esperava. Ele assistia “Dr. House”.
-Olha só! Você está mesmo vendo TV! – brinquei – Alguém me ligou?
-Só a Bianca – ele respondeu – Uma chamada perdida
-Vou ligar pra ela
-Não vai, não – ele disse, me puxando para a cama – Eu te trouxe para cá pra você se esquecer do mundo. Será que você pode fazer isso?
-É meio difícil, já que eu vivo nesse mundo – brinquei
         Dei um beijo nele e ficamos abraçados na cama.
-Sabe, quando eu soube da morte de Manu... – comecei – eu fiquei arrasada. Pensei que nunca mais as coisas seriam como antes
-E...? – ele perguntou
-Agora, graças a você, parece que tudo está normal novamente. Às vezes, eu nem me lembro mais que ela morreu
-Sério?
-Bom, ainda sinto que algo está faltando, mas quando estou com você... esse vazio se completa
         Ele se virou e me deu mais um beijo. Retribuí com um beijo em sua nuca.
-Agora? – ele perguntou, com empolgação visível
-Agora – respondi
         Rapidamente, ele tirou a camisa e começou a beijar meus ombros. Eu já estava de biquíni, então ele não precisou tirar muita coisa.
         Infelizmente – para vocês – terei que parar por aqui. Também preciso de minha privacidade. Uma coisa era certa: essas foram as melhores férias da minha vida.

83- Passado Que Condena


         O dia estava ensolarado, era meio de semana. Tudo indicava um dia normal. Mas não seria um dia normal. Especialmente para Lucas S. No mínimo, seria um dia memorável.
         Vamos começar do começo:
         Acordei no horário de sempre e desci para tomar café com o pessoal. Bianca ouvia música e os outros conversavam. Me sentei à mesa e dei bom dia a todos.
         Ana admirava sua barriga de 5 meses. Ela parecia ansiosa para finalmente cuidar de seu filho. Sim, filho. Por ser médica, Ana tinha a vantagem de disponibilidade ao ultrassom. Nath e Karol também aproveitaram dessa vantagem. Karol esperava uma filha e Nath, também uma filha.
-Algum sinal de Lucas C? – perguntei a Lucas S
-Não. Nada – ele respondeu, desanimado – Mas não se preocupe, nós vamos achá-lo
        Como Lucas C estava desaparecido e Julie ainda estava no hospital se recuperando, Jenny ficava aos cuidados de Ana e Renato. Para Ana, era como um “treino”.
         Bianca pegou sua pasta e apressadamente foi para o trabalho, sem antes se despedir de mim.
-Tchau, “amore” – ela disse
         Fiquei conversando um pouco com Ana, Matheus e Nath, até que a campainha tocou.
-Quem será? Ainda é cedo – disse Nath
-Deixa que eu atendo – disse Lucas S
         Ele foi até a porta e não ouvimos ele nos dizer quem era. Na verdade, ouvimos um “Quanto tempo!” e algumas risadas, como velhos conhecido. Curiosos, fomos até lá para ver quem era.
         A visitante era uma moça bonita, de uns 24 ou 25 anos, de cabelo curto e preto. Ela e Lucas S se abraçaram como se fossem amigos de infância separados por muito tempo.
-Ele não vai nos apresentar a ela, não? – indagou Matheus
-Credo, Matheus! Que desespero! Parece cachorro no cio – brincou Nath
-Não, Nath – eu disse – Até que ele tem razão. Será que ele não viu a gente aqui não?
         Ana fingiu uma tosse – exagerada, como se estivesse morrendo – para chamar a atenção dos dois.
-Ah, me desculpa, pessoal – disse Lucas S – Essa é Alex
-Oi, como vão? – ela disse, apertando a mão de cada um de nós
         O entusiasmo de Matheus ao apertar sua mão acabou deixando-a um pouco assustada.
-Quanto tempo, hein? – disse Lucas S
-É! 6 anos! – Alex concordou
-O que te traz de volta? – ele perguntou
-Eu preciso da sua ajuda – ela disse
-Com o quê?
-Preciso da sua ajuda para engravidar
         Matheus ficou de boca aberta.
-Toma, cara de tacho – Nath o provocou
         Voltando à conversa de Lucas S e Alex:
-Peraí, ajuda pra quê? – disse Lucas, perplexo
-Engravidar. In vitro. E aí? – ela disse como se perguntasse que horas são
-Me deixa pensar, tá legal? – Lucas tentou dizer gentilmente
         Ela concordou.
-Reunião – anunciou Lucas
         Fomos todos para a cozinha, onde poderíamos conversar.
-De onde você a conhece? – perguntou Thaís
-Faculdade. Éramos colegas de quarto – respondeu Lucas
-Colegas de quarto? Que eu saiba, só podem ficar no mesmo quarto 2 garotos ou 2 garotas – disse Rafah
-E é. Mas eles viram o nome Alex e acharam que era um garoto – ele disse
-Nunca rolou nada entre vocês? Afinal, vocês dormiam no mesmo quarto... – concluiu Matheus
-Nunca
-Nunquinha? – insistiu Nath
-Não. Ela é lésbica! – disse Lucas
-Lésbica??? Que desperdício... – disse Matheus
-Nem parece que ela é lésbica – eu disse
-Jura? Ela estava olhando para os seus peitos – ele disse
         Como um reflexo, cobri os peitos com as mãos.
-O que eu faço? – Lucas perguntou
-Aceita, oras – sugeri
-Mas e a Kesha??
-A gente tem que pensar em tudo por você? – reclamei
-Mudando rapidamente de assunto, alguma chance dela ser bi? – perguntou Matheus
-Nenhuma. Olha que eu tentei! – disse Lucas – Mas Kate foi mais rápida. E Angela. E Kandi. E Chelsea. Acho que você já entendeu.
-Mas e aí? O que você vai fazer? – perguntou Ana
-Primeiro, tenho que falar com a Kesha – ele disse

PDV do Lucas S

         Liguei para Kesha. Disse que precisávamos conversar. Expliquei toda a situação a ela e, estranhamente, sua resposta foi:
-Sim
-Peraí, viajei agora. Sim o quê? – perguntei
-Sim, você pode engravidar sua amiga
-Sério??
-Bom, ela é lésbica. É meio improvável outra mulher engravidá-la. E você não vai precisar casar com ela nem nada
         Apesar da resposta inesperada, resolvi ir adiante. Eu, Alex e o pessoal fomos até uma dessas clínicas especializadas em fertilização in vitro.
-Ansioso? – perguntou Nath
-Nervoso, talvez – respondi – Isso tudo é meio estranho pra mim
-Alex, poderia vir fazer uns exames? – chamou a doutora
         Alex entrou na sala e ficou lá por um tempo. Depois, voltou pulando e gritando.
-Estou grávida! – ela gritava
-Nossa! Esse processo é mágico ou o que? – eu disse sarcasticamente
-Não, não. É que uns meses atrás eu quis experimentar algo novo, sabe? E o resultado foi esse – ela disse
-Eu sabia! – exclamou Matheus
-É tão bom saber que eu e Michelle vamos ter nosso filhinho! – disse Alex
-Ah, esquece – disse Matheus irritado
         Logo depois de toda essa agitação, voltamos à mansão.
-Apesar de não ter precisado, foi bom saber que estava disposto a ajudar – disse Alex
-Amigos são para isso: engravidar suas amigas lésbicas – brinquei
-Você é um fofo, sabia? – ela riu – Se eu fosse hétero, namoraria com você
-Me sinto lisonjeado – brinquei
-Está convidado para o meu casamento com Michelle – ela disse
         Bom, com certeza esse seria um dia, no mínimo, memorável. Afinal, não é todo dia que sua amiga lésbica te pede para engravidá-la!

Fim do PDV do Lucas S

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

82- Quem Tá Rindo Agora?


PDV da Nath

-Por favor, por favor, por favoooor, Matheus! – implorei
-Por que eu? Por que não a Allanis ou a Ana? – ele perguntou
-Elas estão trabalhando. E a babá está doente. Tenho que trabalhar, não posso ficar em casa pra cuidar do Eric – respondi
-Fica em casa, ué. Você tá grávida
-De 5 meses. Ainda tenho que trabalhar – rebati
-Tá legal – ele concordou – Mas vai ter que arranjar uma das suas amigas pra mim
         Revirei os olhos. Não tinha tempo para bancar a cupida. Na verdade, até tinha, mas da última vez que arranjei uma amiga para o Matheus, ela parou de falar comigo.
         Corri para a “G.N.O. (Girls Night Out)”, sede da revista da qual sou editora.
         Passei quase voando pelo corredor, esbarrando em todos que estavam no caminho.
-Grávida passando! Grávida passando! – gritei
         Quando cheguei em meu escritório, encontrei uma pilha de papel de 30cm.
-Mas o que é isso? – exclamei
-Trabalho – respondeu Sara – Temos muito hoje
         Dei um longo suspiro de cansaço. Quando fui me sentar, o telefone tocou.
-A impressora travou. Vem ajudar – disse Cameron
         Fui correndo até seu setor e soquei a máquina até funcionar. Quando me preparei para ir ao meu escritório para sentar e descansar, ouvi Rick me chamar.
-O que foi, Rick? – perguntei
-É a “Girls, Girls, Girls”! Copiaram nossa matéria! – ele respondeu
-Dá um jeito nisso
-Eu? Por que eu?
-Porque sou sua chefe e tô mandando – rebati, cansada dessa pergunta
         Corri por 2 horas. Em nenhum momento parei para descansar. Quando finalmente me sentei, Sara veio me dizer que eu tinha visitas.
-Manda embora – respondi
-Ele diz que é urgente
-Eu devo ter dançado na cruz numa outra vida – exclamei – Deixa entrar
         Tive uma surpresa ao ver seu rosto. Uma surpresa desagradável.
-Mark?!?! O que você tá fazendo aqui? – perguntei
-Senti saudades – ele respondeu
         Levantei a mão e mostrei a aliança em meu dedo. Ele não pareceu surpreso.
-O que você quer? – perguntei seriamente
-Me redimir – ele disse
-Um pouco tarde, não acha? – rebati
         Ele se aproximou e eu me afastei, como um reflexo.
-Como exatamente você pretende se redimir? – perguntei
-Assim – ele disse, me beijando
         Tentei empurrá-lo mas ele era muito forte. Ele começou a me beijar e a passar a mão pelo meu corpo. Parou de me beijar quando passou a mão pela minha barriga.
-Me desculpa, foi um erro – ele atropelou as palavras e saiu da sala
         Fiquei paralisada por um momento, tentando processar os acontecimentos.
-Se redimir, né? – falei comigo mesma
***
-Ele te beijou? – disse Allanis, perplexa
-É – respondi – Disse que queria “se redimir”
-Mas quando viu que estava grávida, parou? – perguntou Bianca
         Respondi com um aceno de cabeça.
-Então ele continua o mesmo cafajeste – supôs Allanis
-O que eu faço? – perguntei
-Sequestra ele e entrega ele pra máfia italiana – sugeriu Ana
-Eu não vou se... Quer saber? Tive uma ideia! – exclamei
-Oba! Eu conheço um cara italiano... – disse Ana
-Não, nada de máfia. Algo melhor! – disse, com um sorriso no rosto
***
         Liguei para Mark. Disse que tinha assuntos importantes para falar com ele. Pedi que me encontrasse no centro da cidade às 22:00.
         Peguei Eric e me preparei para ir.
-Tem certeza? – perguntou Allanis
-Absoluta – respondi, segurando Eric
         Fui até o lugar marcado, levando Eric em meu colo.
-O que você quer falar comigo? – ele perguntou
-Sabe, eu tava precisando te falar uma coisa – comecei – Quando a gente terminou, coisas estranhas aconteceram comigo. Fiquei com vontade de comer coisas estranhas, meu corpo mudou...
-Você não está dizendo...?
-Sim, esse é seu filho, Mark!
         Ele congelou. Me segurava para não rir. Eu tinha treinado com Lucas S como atuar e sabia que tinha de pensar em algo sério para não me desconcentrar.
-Eu tenho guardado esse segredo, mas agora que você voltou, podemos criá-lo juntos. Eu conheço uma pensão onde podemos morar – usei um tom melodramático
-Como assim?
-Bom, você quer se redimir, não é? Então venha cuidar dele comigo! Se redima!
-Sabe, pessoas como eu não tem conserto – ele desconversou
-Tem sim! Eu sei disso! Você pode ser um ótimo pai, não é, Mark Jr.? – falei com Eric
-Mark Jr.? – disse Mark, desesperado
-Eu sempre soube que ele era seu filho. Nunca tive dúvidas
         Mark estava a ponto de desmaiar. Suava exageradamente. Estava tendo uma crise de pânico. Nunca tinha me divertido tanto, então continuei a cena.
-Por favor – implorei a ele
-Tenho que ir – ele disse, apavorado
         Ele correu para longe e eu aproveitei a deixa:
-É assim? Vai abandonar a gente? Tem mais 3 filhos! Nós vamos morar na rua porque VOCÊ vai abandonar a gente? – gritei
         Todos encararam Mark como se dissessem “Vai deixar a pobre coitada na rua?”.
-Ela é maluca. Ignorem – ele disse para as pessoas ao redor
         Ele fugiu e eu voltei vitoriosa para casa.
-É isso que acontecem quando mexem com Nathália Costa – falei orgulhosa

Fim do PDV da Nath